Por Rafael Saddi — em post feito no Facebook no dia 16/05/2018
Quem melhor acertou na percepção do momento e por isso melhor capitalizou a luta dos caminhoneiros foi a extrema direita. Rapidamente, visitaram as concentrações dos caminhoneiros, servindo água e café, formando uma rede de apoio. Souberam vincular a pauta concreta dos caminhoneiros e a crise de representação política entre o precariado às suas próprias análises gerais (corrupção na Petrobrás que gerou isso. Fora todos os políticos. Só os militares para resolver. A luta é de todos os brasileiros contra os políticos e os impostos.).
Os vídeos do Bolsonaro foram os melhores de todos. Falou diretamente para o caminhoneiro, de sua situação concreta e difícil. Parabenizou a coragem e a força. Por fim, e no fim, só depois de elogiar muito, aconselhou a não trancarem mais as rodovias. Ora, claro. Sem rodovia trancada, sem enfrentamento com os militares. Sem enfrentamento com os militares, sem prejuízo para a pauta da extrema direita.
É a primeira vez que a extrema direita brasileira se envolve diretamente em uma luta concreta da classe trabalhadora. Até então só falava ao trabalhador em termos moralistas (aborto, pedofilia) e em termos de segurança pública (bandido bom é bandido morto, estado mais punitivo contra os bandidos). Nunca se dirigia às suas pautas econômicas. Deram um grande passo. Enquanto isso, uma boa parte da esquerda fez um papel ridículo, divulgando posts mentirosos que reduziam toda a movimentação à conspiração das empresas e como nova etapa do golpe. O erro de análise sai caro. Muito caro.
Ou seja, a direita sai do debate cultural para se conectar às questões materiais que afetam o dia a dia do trabalhador. A esquerda precisa resolver aquela treta do turbante e da fantasia de índio primeiro.
http://www.ihu.unisinos.br/579431-a-raiz-da-greve-dos-caminhoneiros-e-a-regulacao-do-trabalho
Artigo que enfatiza a tese da hegemonia empresarial na pauta dos caminhoneiros. Questão principal colocada: por que a luta é pela redução do preço do diesel (lógica empresarial de redução de custos de produção, aproxima os caminhoneiros dos patrões) e não pelo aumento dos pagamentos por frete (assalariamento disfarçado, luta direta contra as empresas)?
Não é que esteja sobrando Engels, está faltando Mary Burns.
LONGA VIDA AO RUBRONEGRO INFLAMAR DOS ANJOS!