Luiz Alberto Moniz Bandeira, fundador da POLOP

A história da POLOP pode ajudar a compreender melhor os zigue-zagues da esquerda nas décadas de 1950 e 1960. Por Manolo

O Brasil vive uma profunda mudança de sua inserção na economia e na política globais. Nunca antes na história deste país se produziu, exportou e investiu tanto, em especial fora das fronteiras – desenvolvendo as empresas transnacionais de origem brasileira. Nunca antes a política externa brasileira foi tão independente – com base na exploração dos recursos econômicos da América Latina e na disputa de mercados e de espaços de investimento em África. Nunca antes o Brasil foi tão engajado – ao ponto de grandes capitalistas apoiarem políticas compensatórias “de esquerda”. Na verdade – e é o que queremos investigar com esta série de artigos – nunca antes o Brasil foi tão imperialista.

Leia aqui as demais partes do ensaio: [1][2][3][4][5][6][7][8][9][10]

A esta altura do ensaio, vistas tantas coisas, é justo perguntar: por que focar a análise na Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (ORM-POLOP)? O “obreirismo trotskista” que Jacob Gorender viu na POLOP não seria motivo suficiente para descartá-la, vez que seu “doutrinarismo impotente” e suas “ideias trotskistas e luxemburguesas” tinham “insignificante repercussão na ação concreta”, mostrando-se “incapaz de elaborar uma alternativa tática viável” ao nacionalismo e ao reformismo que incessantemente criticava[1]? Este isolamento não estaria exatamente na origem do militarismo extremado que a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), uma de suas dissidências, apresentou a partir de 1968 e aprofundou a partir da teorização militarista de “Jamil”[2]? Os sucessivos fracassos da POLOP em aglutinar a maioria dos grupos que abandonavam o Partido Comunista Brasileiro (PCB) – como a Aliança de Libertação Nacional (ALN) e o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) – e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) – Corrente, Ala Vermelha, Partido Comunista Revolucionário (PCR) – tal como suas próprias dissidências internas – Comando de Libertação Nacional (COLINA), VPR – não demonstrariam sua fragilidade[3]? O delicado processo de conversão da POLOP em Partido Operário Comunista (POC) através do agrupamento em 1967 com outras correntes políticas ainda menores (Dissidência do PCB/RS; fração da Dissidência do PCB da Guanabara etc.), concebido como tentativa de fortalecimento da esquerda empurrada para a clandestinidade pelos militares no poder, não foi incapaz de levar a um enraizamento na classe operária[4]? O surgimento da Organização de Combate Marxista-Leninista – Política Operária (OCML-PO) em 1970, resultado de uma dissidência do POC descontente com a aproximação da organização tanto da luta armada quanto da IV Internacional, não reforça exatamente a impressão de uma organização política marcada pelo fracionismo – objeto inclusive de escárnio e gozação por militantes  de outras organizações suas contemporâneas[5]? Ao que levaria a análise de uma organização composta basicamente por estudantes e militares de baixa patente[6]? Por enquanto, bastam estas objeções para compreender que a POLOP não foi uma organização isenta de críticas, como às vezes se quer fazer crer. Mas não adianta querer respondê-las aqui; é sua própria história – ponto alto da extrema-esquerda brasileira entre a segunda metade da década de 1950 e a primeira metade da década de 1960 – quem as responderá.

Eric Sachs (Ernesto Martins, Eurico Miranda…)

Tal história começa muito antes do congresso de fundação da organização, realizado em Jundiaí (SP) entre 16 e 19 de janeiro de 1961[7]. É inevitável começá-la com a história de um de seus principais animadores, Erich Czaczkes, pois é aquele com militância mais longeva. O depoimento de Gabriel Cohn, militante da Liga Socialista Independente (LSI) e depois da POLOP, o justifica:

Eric Sachs eu cheguei a conhecer, aquela figura severa, extremamente aplicado, nunca consegui descobrir qual era a do Eric, o que ele fazia na vida, conheci como “o severo militante”, uma figura muito importante, ajudou a galvanizar, foi uma conjugação de referência que permitiu trazer a tona coisas que o movimento de esquerda, digamos assim, convencional num país como o Brasil não traria. (…) [Das confluências daquele momento histórico, importante foi] a presença relativamente acidental de pelo menos duas figuras da grande tradição europeia da luta revolucionária, Eric Sachs e Sachetta, quer dizer bota um alemão e um italiano, cada um do seu jeito. Sachetta, a imagem que eu tenho dele, não sei se correta, é que ele era um jornalista e um homem de esquerda convicto, estou distinguindo um homem de estar à esquerda, do homem de partido, e o Eric me dava esta impressão de ser formado na mais dura escola da militância, inclusive da militância clandestina, ele era a figura do clandestino, discreto, usava nome de guerra, isso era incomum aqui. Você pega dois caras assim, heterodoxos e que conseguem juntar um agrupamento importante à esquerda, é totalmente diferente, não só no Brasil, certamente na América Latina[8].

Heinrich Brandler
Heinrich Brandler

Austríaco descendente de judeus ucranianos, Erich Czaczkes nasceu em 11 de março de 1922. Seu pai, David Czaczkes, era destacado militante da social-democracia austríaca, e um sua mãe, Sinaida Czaczkes, tinha um irmão militante no partido bolchevique. Tendo vivido com os pais em Viena até os doze anos, chegou com eles à União Soviética em 1934, onde passou a frequentar a Escola Karl Liebknecht, voltada para filhos de refugiados de origem alemã[9]. Expulsos da URSS nos expurgos de 1937[10], a família Czaczkes retornou à Áustria, de onde fugiram em 1938 para a França devido ao Anschluss (anexação da Áustria à Alemanha nazista)[11]. É na França onde Erich, então com dezesseis anos e já conhecendo críticas a Stalin desde sua estadia na URSS[12], conhece Heinrich Brandler e August Thalheimer – lideranças da oposição alemã ligada à Oposição Comunista Internacional[13] – Victor Serge e militantes exilados do Partido Operário Unificado Marxista (POUM). Torna-se o mais jovem militante da Oposição Comunista Alemã. Este ambiente crítico tanto à Comintern quanto à Oposição Internacional de Esquerda dirigida por Trotski marca sua formação política.

August Thalheimer
August Thalheimer

O estouro da Segunda Guerra Mundial fez da Europa um lugar pouco seguro para judeus, em especial para judeus comunistas. Em 1939 a família Czaczkes migrou mais uma vez, agora para o Brasil, onde – diz-se, sem fonte segura – seu contato seria um parente distante, primo de um certo Jurandyr Czaczkes – conhecido futuramente pelo nome artístico de Juca Chaves[14]. Já no Brasil, Erich Czaczkes encontraria um cenário político de esquerda dominado pelos sobreviventes do massacre contra os anarquistas, pelo fragilizado Partido Comunista de antes da Conferência da Mantiqueira, e pelas organizações trotskistas em período de transição geracional[15]. Não havia, na esquerda brasileira, qualquer tipo de atuação que corresse por fora destas alternativas, e Erich não se adaptava a qualquer delas. Deveria buscar caminho próprio. No Rio de Janeiro, onde se radicara, Erich Czaczkes começou a trabalhar com gráfico na fábrica Lanzara[16], e iniciou suas novas atividades políticas. Antonio Candido, então estudante da Faculdade de Direito da USP, recorda este período:

 

 

Jean MaugüéEm 1941, em parte por causa do curso de [Jean] Maugüé [professor de filosofia da USP, simpatizante do socialismo, que influenciou Aziz Simão, Egon Schaden, Florestan Fernandes, João Cruz Costa e outros], comecei a ler muito a literatura socialista. Li Lenine, li Bukarin, li Plekanov, mas sobretudo Trotski, que me fascinou pela força da sua inteligência e pela beleza do seu estilo. Li sobre a Revolução Russa e lembro que conversava muito a respeito com Paulo Emílio ali por 1942[17]. No fim de 1942 ele [Paulo Emílio Sales Gomes] aglutinou um grupinho, que nós denominamos de brincadeira Grupo Radical de Ação Popular (GRAP). Na verdade, eram seis rapazes que se encontravam aos domingos no meu escritório, em casa de um tio onde eu morava. Conversávamos sobre política do momento, comentávamos leituras, discutíamos idéias socialistas, preparávamos documentos de oposição ao Estado Novo. Faziam parte: Paulo Emílio, eu, Antônio Costa Correia e Germinal Feijó, alunos da Faculdade de Direito, como eu; Paulo Zingg, jornalista que tinha sido integralista, ficara tenentista e tinha boas ideias sobre a possibilidade de uma política radical brasileira; Eric Czaskes, litógrafo austríaco que trabalhava numa livraria, vivera na Rússia, era marxista estrito e nos iniciava em teóricos desconhecidos, como Thalheimer e Brandler. “Leia isso que é muito importante”, dizia. Mais tarde me deu um livrinho em alemão: Por que os marxistas renegam. Foi também ele que me fez ler o livro terrível de Krivitski sobre os horrores do stalinismo…[18] (…) O Paulo Emílio e o Germinal entraram nas conversas de formação da UDN [União Democrática Nacional, partido que reuniu a oposição liberal e parte da oposição socialista a Getúlio Vargas], nome dado por Caio Prado Jr. para indicar a amplitude da aliança entre diversos setores oposicionistas. Naquela altura todo mundo se dizia meio socialista, inclusive Armando Salles quando voltou do exílio. Mas na hora do “vamos ver” os comunistas independentes voltaram para o seu partido, os liberais foram para a UDN e nós sobramos. O nosso grupo, antigo GRAP e grande número dos companheiros da Frente de Resistência, podia se caracterizar do seguinte modo: “Somos socialistas, somos contra o stalinismo, mas não somos contra o comunismo.” Acho que fomos o primeiro grupo de esquerda em São Paulo que afirmou uma posição socialista independente: nem stalinista, nem trotskista, democrática mas revolucionária. Aí fundamos a UDS, União Democrática Socialista. O Paulo Emílio fez o manifesto, adaptando o que tinha feito pouco antes para a Frente de Resistência. Manifesto muito bom. O Eric não entrou, ficou sapeando. Ele era leninista revolucionário mesmo![19] A UDS, que se reunia quase sempre na casa de Paulo Emílio, foi um pequeno grupo de constituição heterogênea, como disse, mas que tinha em comum o anti-stalinismo, o desejo de definir uma forma democrática e combativa para o socialismo e a atenção voltada para as condições próprias do Brasil. O manifesto que lançamos, da autoria de Paulo Emílio, retomava em sentido radical o da Frente de Resistência, e eu o considero um bom documento político. Além dos que mencionei, é preciso dizer que se juntaram a nós grupos muito interessantes de intelectuais e operários negros, como o jornalista Geraldo Campos de Oliveira, as professoras Dona Sofia e Aparecida, o bombeiro Laponésio Batista, o metalúrgico Antonio Candido de Mello, os dois últimos da mesma cidade que eu [Cássia (MG), cidade onde o carioca Antonio Candido viveu desde os oito meses até a adolescência e adotou como cidade natal][20]. Ex-trotskistas eram Febus Gikovate, que exerceu grande influência sobre mim, e Fúlvio Abramo. Arnaldo Pedroso d’Horta era ex-stalinista, e Aziz Simão, ex-membro do Partido Socialista de 1933[21]. A UDS era, portanto, um grupo bem definido teoricamente, mas não conseguiu eficiência prática. Acabou havendo muita discussão e as reuniões se tornaram tensas[22].

Aziz Simão
Aziz Simão

Em parte anterior deste ensaio se viu que a UDS foi um dos grupos de esquerda que veio a formar o Partido Socialista Brasileiro (PSB) em 1947. Em 1948 Sachs saiu das oficinas para as redações, assinando artigos de análise internacional para o Correio da Manhã[23], onde tudo indica que ficou até 1953, ano de sua transferência para o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro[24]. Entre 1958 e 1964, além das atividades como jornalista, manteve trabalhou ora esporádica, ora permanentemente para a embaixada alemã como tradutor – fato que lhe valeu a desconfiança de Hermínio Sacchetta, que supunha-o um agente da KGB (Komitet Gosudarstvenno Bezopasnosi, “Comitê de Segurança do Estado”)[25]. Em 1962, paralelamente às suas carreiras de tradutor e jornalista, Eric Sachs tornou-se funcionário do setor de publicidade do Ministério da Educação, cargo do qual foi apeado pelo golpe militar de 1964. Sachs naturalizou-se brasileiro em 1955, e em seu currículo afirma ter sido filiado ao PSB desde 1957/58 “até a sua dissolução”[26] – exatamente o período de maior efervescência política na extrema-esquerda brasileira, reflexo de suas tentativas de articulação interna como resposta à conjuntura política nacional e internacional. Ainda em 1959 participaria ativamente da publicação Movimento Socialista, onde análises conjunturais sobre a Operação Pan-Americana conviviam com críticas acerbas ao nacional-desenvolvimentismo[27].

Em janeiro de 1961, como visto, ocorreu o congresso de fundação da POLOP, ponto máximo dos esforços militantes de Eric Sachs – de agora em diante não apenas um austríaco exilado remanescente de uma corrente comunista internacional desarticulada, mas brasileiro naturalizado e principal ideólogo de uma das mais importantes organizações da extrema-esquerda brasileira. Para não repetir o que já se disse em parte anterior deste ensaio quanto ao clima de profusos debates na extrema-esquerda e dar voz aos participantes do congresso, basta que o mosaico de depoimentos abaixo narre o processo de fundação da POLOP:

Luiz Alberto Moniz Bandeira, fundador da POLOP

Luiz Alberto Moniz Bandeira: …em fim de 1956 conheci Eric Sachs, um austríaco que dizia haver pertencido à corrente de Heinrich Brandler (ex-dirigente do PC alemão) chamada na Alemanha Arbeitpolitik[28] (Política Operária) que era uma fração rotulada como III 1⁄2 (Terceira e meia), devido ao fato de ter abandonado a III Internacional e não haver aderido IV. Eu era do Partido Socialista, achei melhor criar dentro do Partido Socialista a Esquerda Socialista e criei aqui no Rio de Janeiro juntamente com Eric Sachs a Esquerda Socialista, que lançou um jornal (dois números) chamado Esquerda Socialista e panfletou no Rio no 1° de maio de 1957, incorporando elementos da dissidência do PC, isso em 1957. Eric Sachs e eu estabelecemos contacto com o grupo dissidente, liderado por Agildo Barata, e alguns que saíram da UJC [União da Juventude Comunista] juntaram-se a nós na Juventude Socialista. Estou falando nós, porque fomos nós que dirigimos, tínhamos uma ideia, uma formação melhor e um interesse em criar algo, foi isso que aconteceu, porque realmente a iniciativa partiu de mim e de Eric[29]. Foi um grande período de efervescência ideológica, de debates, em que todas as tendências, inclusive os trotskistas, se reuniam para debater.[30] Em 1957, um uruguaio chamado Estrada (creio que seu nome verdadeiro era Labat) veio ao Brasil representando o BLA, e o POR absorveu alguns militantes da UJC (Juventude Comunista) que havia sido dissolvida devido à dissidência de Agildo Barata após o XX Congresso do PCUS (Partido Comunista da União Soviética). Junto com outros militantes da Juventude Socialista, editamos o jornal Esquerda Socialista. Fazíamos muitas reuniões em São Paulo com militantes do grupo de Agildo, com a Liga Socialista Independente e o POR. Almino Afonso [político do PTB, ministro do Trabalho de João Goulart, conselheiro da República sob o governo Lula], Paul Singer [judeu austríaco naturalizado brasileiro em 1954, militante do PSB, integrante do CEBRAP, militante do PT, atual secretário nacional de economia solidária do Ministério do Trabalho] e muitos outros tomaram parte nestes encontros. Sempre que [José Maria] Crispim [militante comunista, deputado constituinte em 1946, dissidente trotskista em 1952…] vinha ao Rio, ele ficava em meu apartamento, apesar de eu não pertencer à IV Internacional. A revista Novos Tempos, editada pelo grupo de Osvaldo Peralva e Agildo Barata no Rio de Janeiro, publicou alguns de meus artigos, incluindo um sobre Trotsky, no qual respondi ao stalinista Calvino, que, como dono da revista, tomou-a de volta.[31] Eric estabeleceu contato com Aluízio Leite Filho, estudante da Escola Brasileira de Administração Pública, e, através dele, entramos em contacto com Ruy Mauro Marini. Theotônio do Santos que pertencia à Mocidade Trabalhista (do PTB) e outros como o Piragibe [Castro Alves] se juntaram a nós[32].

Ruy Mauro Marini (em sua única foto conhecida)
Ruy Mauro Marini, fundador da POLOP (em sua única foto conhecida)

Ruy Mauro Marini: Isso me levaria, ainda na França, a tomar contacto com o grupo que editava, no Brasil, a revista Movimento Socialista, órgão da juventude do Partido Socialista (que publicou um artigo meu, onde ajustava contas com o nacional-desenvolvimentismo), em particular Eric Sachs, com o qual eu viria a estabelecer, a meu regresso, uma grande amizade e cuja experiência e cultura política me influenciaram fortemente[33].

Otavino Alves da Silva: Em 58, conheci um grupo de jovens que militavam na mocidade trabalhista do PTB: o Simon Schwatm (sic), de origem judaica, sua namorada Suzana, Artur Mota, que hoje é advogado, Teotônio dos Santos Júnior, Vânia Bambirra, Betinho, Vinicius Caldeira Brant, Jair Ferreira de Sá, que depois foi da AP (Ação Popular), entre outros. O Teotônio nunca foi do Partidão. Nessa época discutia-se uma intervenção no PTB e, ao mesmo tempo, um projeto político de combate ao reformismo. O Leonel Brizola bancou o Congresso da Mocidade Trabalhista no Rio Grande do Sul, foram quatro pessoas de Belo Horizonte: o Vinícius, o Pedrinho, um menino da JOC (Juventude Operária Católica), ligado ao Sindicato dos Têxteis, e eu. Quem bancou as passagens de avião foi o Santiago Dantas. Ali nasceu a futura chapa de direção da UNE, do Congresso que ia acontecer em Belo Horizonte. (…) O Eric dirigiu uma revista de intelectuais do PSB do Rio de Janeiro. (…) O Eric trouxe uma terceira visão marxista, além da trotskista e da stalinista. Colocava Rosa Luxemburgo como porta-voz dessa nova concepção. Ele sempre valorizou a formação teórica do militante. Seu sonho eram as escolas de formação onde Rosa Luxemburgo tinha sido professora. (…) O Eric dava assistência aos têxteis do Rio e o Eder aos gráficos de São Paulo. No Sindicato dos Marceneiros, tínhamos O Serrote, um boletim que tratava dos problemas da categoria. (…) O Congresso de Fundação aconteceu em Jundiaí. Dos operários só fui eu, representando os marceneiros. Nesse Congresso de Formação participaram um grupo de espanhóis[34], o Eder e o Emir Sader, o Paul Singer. Antes de 64, o Paul Singer era ligado ao PSB, foram o Eder e o Emir, jovens estudantes da época, que o motivaram. Aquele congresso foi só uma tomada de posição mais aberta, mas não se unificou. O Juarez Brito, que morreu durante a repressão, também participou do Congresso de fundação. E continuamos nossa militância dentro da perspectiva de um sindicato autônomo, um projeto político revolucionário marxista-leninista, fundamentado na realidade brasileira. Nossa posição era de crítica aberta ao stalinismo e ao reformismo, embora reconhecêssemos os acertos da União Soviética[35].

Otavino Alves da Silva, fundador da POLOP, em Eunápolis-BA (2010)
Otavino Alves da Silva, fundador da POLOP, em Eunápolis-BA (2010)

Theotônio dos Santos: …a POLOP surgiu basicamente de uma iniciativa de um grupo do Rio de Janeiro. Eram membros da Juventude Socialista que criaram uma revista chamada Movimento Socialista, que chamou a necessidade de constituir uma alternativa marxista-socialista e contaram com vários grupos e um deles era o nosso grupo de Minas Gerais. Nós tínhamos um grupo de estudantes, basicamente, e tinham alguns operários também. Nós éramos membros da Juventude Trabalhista do Partido Trabalhista de Minas Gerais. Participaram também outras correntes como, por exemplo, o Betinho e o grupo dele que depois vai dar origem à Ação Popular (AP)[36].

Theotônio dos Santos (à esquerda), fundador da POLOP, com outros da revista Complemento

Paul Singer: [Em 1956] Erich Sachs então entrou em contato comigo, para eu escrever para sua revista. Ele era um alemão, gráfico, que no Brasil se ligara ao grupo socialista democrata, formado principalmente na Faculdade de Direito. Ele vinha de uma dissidência do Partido Comunista Alemão. O nome Política Operária ele trouxe da Alemanha, pois assim se chamava a facção dele. Nos aproximamos então politicamente, por causa da revista, e decidimos formar uma nova facção, mas tendendo a um partido político de esquerda. Fizemos uma assembleia, na qual estavam Michael Löwy, Emir e Éder Sader, Theotônio dos Santos, Juarez [Guimarães] de Brito, Simon Schwartzman, entre outros. Era a esquerda do Partido Socialista de São Paulo, com a esquerda do PTB de Minas e um grupo do Rio de Janeiro também do Partido Socialista. (…)[37].

Luiz Alberto Moniz Bandeira: …tais correntes eram: um grupo do Rio de Janeiro que se tinha originado da Juventude do Partido Socialista, tornando-se independente por não endossar a candidatura do Marechal Lott à presidência da República. Em São Paulo existia um grupo, que se considerava luxemburguista [a Liga Socialista Independente (LSI)] e em Minas Gerais uma Juventude Trabalhista. A Bahia participou com dois grupos, um de Ilhéus e outro de Salvador[38] (…).

Pery Falcón, fundador da POLOP
Pery Falcón, fundador da POLOP

Pery Falcón: …o de Ilhéus era coordenado pelo companheiro Hermano Peralva e o de Salvador, tinham várias lideranças, entre elas: [José Luiz] Pamponet; Raimundo Aras, Moniz Bandeira, Amílcar Baiardi e outros[39].

Luiz Alberto Moniz Bandeira: Compareceram também o Partido Operário Revolucionário Trotskista (POR-T) e a Liga Socialista Independente (LSI). A ORM-POLOP não defendeu proposta no Congresso de fundação simplesmente porque foi daí que ela emergiu. Os que defenderam propostas foram as tendências e os grupos que participaram do acontecimento. Mas haviam princípios que foram estabelecidos. O elo de ligação entre as correntes era de que a revolução no Brasil teria que ser socialista. Esta foi a principal defesa no Congresso de Fundação da POLOP. […] os trotskistas não aceitaram formar uma outra organização. A Liga Socialista Independente (LSI) dividiu-se, porém a maioria aderiu à idéia de uma organização que agrupasse todas aquelas tendências. Os militantes da LSI que aderiram foram os mais novos, como Eder e Emir Sader, Michael Löwy e outros. Hermínio Sacchetta e Alberto Luiz da Rocha Barros embora fizessem parte deste Congresso não aderiram à idéia[40]. A maior parte de Liga Socialista Independente e a Mocidade Trabalhista decidiram fundir-se com a Juventude Socialista, já fortalecida por muitos egressos da UJC, mas o POR não aceitou, o POR era extremamente sectário[41]. Eu, pessoalmente, mantinha contacto com José Maria Crispim e os trotskistas da IV Internacional, mas eles eram muito difíceis, sectários e dogmáticos e o que Eric Sachs e eu articulávamos no movimento em escala nacional era formar uma esquerda revolucionária, anti-stalinista, pois considerávamos que o Brasil já era um país capitalista maduro e não um semi-colonial conforme a tese do PCB[42]. Outros nomes tais como Paul Singer, Gabriel Cohn participaram da fundação da POLOP colaborando nos primeiros números da revista. A Mocidade Trabalhista, tendo à frente Theotônio dos Santos e Vânia Bambirra, foram os pilares da POLOP em Minas Gerais, assim como Rui Mauro Marini, que era da Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP), no Rio de Janeiro. Aluízio Leite Filho foi o principal articulador no meio estudantil, dando à POLOP importante papel na UNE[43].

Vania Bambirra, fundadora da POLOP
Vania Bambirra, fundadora da POLOP

Michael Löwy: …a maioria da LSI não aderiu à POLOP, apenas eu, os irmãos Sader e mais algum que não me lembro [Gabriel Cohn]. Nós achamos que era tempo de superar os pequenos grupos e unificar a esquerda marxista, em cima de uma estratégia socialista, do apoio à Revolução Cubana e da critica em relação ao stalinismo e o nacional-reformismo do PCB[44].

Ruy Mauro Marini: A gestação da esquerda revolucionária brasileira e latino-americana – particularmente na Argentina, no Peru, na Venezuela e na Nicarágua – não é, como se pretende, efeito da Revolução Cubana, mas parte do mesmo processo que deu origem a ela – independentemente de que passe a sofrer forte influência sua, nos anos 60…[45] as duas tendências, a que gerou o MIR-Praxis [Praxis y Movimiento de Izquierda Revolucionaria, organização fundada em 1956 por iniciativa de Silvio Frondizi], na Argentina, e a ORM-POLOP, no Brasil, coincidiam nos dois países como em outros países da América do Sul, como no Chile, onde se formou a Vanguarda Revolucionária Marxista, que depois deu origem ao MIR chileno. Da facção conhecida como APRA-REBELDE [facção expulsa da Alianza Popular Revolucionaria Americana (APRA) peruana em 1959], à qual pertencia a primeira mulher de Guevara. Surgiu o MIR [Movimiento de Izquierda Revolucionaria] no Peru, sob a liderança de Luis de la Puente Uzeda [principal liderança e fundador da APRA Rebelde] e Guilhermo Lobatón [militante do MIR peruano, coordenador da zona de influência do Centro do Peru (Túpac Amaru)], com os quais a POLOP, por meu intermédio, manteve bom relacionamento na primeira metade dos anos de 1960[46].

Amílcar Baiardi, fundador da POLOP, depois integrante do MR-8 e do PCB

Theotônio dos Santos: …o que unia a todos era a oposição à linha do PCB, adotada em 1958, segundo a qual era necessária uma aliança com a burguesia nacional para completar as tarefas democráticas burguesas no Brasil. Nós achávamos que as lutas contra os elementos pré-capitalistas da sociedade brasileira, como a estrutura agrária, contra o imperialismo e pela implantação da democracia não poderiam se realizar nos marcos de um capitalismo nacional democrático, tal como o Partido Comunista e o ISEB defendiam naquele momento[47].

Estava formada a Organização Revolucionária Marxista – Política Operária. De sua fundação participaram: Theotônio dos Santos, Vânia Bambirra e Juarez Guimarães de Brito, pela Mocidade Trabalhista de Minas Gerais, ligada ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB); Paul Singer, Piragibe Castro Alves, Luiz Alberto Moniz Bandeira e Eric Sachs, pela Juventude Socialista, ligada ao Partido Socialista Brasileiro (PSB); Ruy Mauro Marini, Aluízio Leite Filho e Simon Schwartzman, estudantes da Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP), do Rio de Janeiro; Arnaldo Mourthé, estudante de engenharia em Minas Gerais; Emir e Eder Sader, Michael Löwy e Gabriel Cohn, da Liga Socialista Independente (LSI) de São Paulo; Hermano Peralva, de Ilhéus (BA); José Luís Pamponet, Raimundo Aras e Amílcar Baiardi, todos estudantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), muito provavelmente articulados por Moniz Bandeira; Otavino Alves da Silva, marceneiro baiano radicado em Belo Horizonte (MG) e oriundo do PCB[48]; e outros não registrados nas memórias militantes. Eram, no total, pouco mais de vinte delegados, representando aproximadamente cem militantes de diversos cantos do país[49]. A composição política de seus fundadores não deixa margem a dúvidas: a POLOP resultava da reunião de descontentes de diversas organizações da esquerda:

Em todos os debates realizados até agora, chegamos à conclusão de que a tarefa principal dos marxistas brasileiros consiste na formação de um partido independente da classe operária. Concordamos que os assim ditos “Partidos Operários”, ou a “esquerda”, como é popularmente chamada, não preenchem essa função no cenário político do país. O PC falhou na tentativa de se tornar o partido do proletariado brasileiro, o PSB nunca teve essa preocupação e o PTB não passa de uma agência da burguesia no meio dos trabalhadores[50].

O descontentamento generalizado dos fundadores da POLOP com a esquerda tinha razões mais profundas que simples divergências pessoais transformadas em questões políticas, como na crise que levou o Comitê Regional de São Paulo a ser expulso do PCB em 1937 e fundar, quase involuntariamente, uma nova geração de trotskistas. Estava para além das divergências de tática que levaram à ruptura do grupo de José Maria Crispim com o PCB entre 1951 e 1952, uma discordância quanto aos meios de alcançar objetivos estratégicos com que uma parte e outra concordavam. Ia longe das divergências de interpretação da linha internacional correta que levaram a tantas críticas ao entrismo trotskista praticado pelo Partido Operário Revolucionário (POR) nos anos 1950 – afinal, o entrismo resultava de uma análise da conjuntura internacional e do papel dos trotskistas diante dela. Ultrapassava as meras questões de cessão de legenda que marcaram a relação do Partido Socialista Brasileiro (PSB) com o POR e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). As divergências da POLOP com as demais organizações da esquerda diziam respeito à interpretação da realidade, aos objetivos estratégicos extraídos desta interpretação, aos meios para alcançá-los e à capacidade para empregá-los. Era um novo mundo, surpreendente como um ovo de Colombo, que se abria à extrema-esquerda brasileira.

Notas

[1]: GORENDER, Jacob. Combate nas trevas – a esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada. São Paulo: Ática, 1987, pp. 35-36. Observe-se que, de um lado, todas estas observações “elogiosas” à POLOP couberam em apenas dois parágrafos, e de outro que toda a análise política feita neste livro segue uma linha bastante próxima à do PCB. Não poderia ser diferente: Gorender, egresso do Comitê Central do PCB, foi dirigente do PCBR, organização de dissidentes do PCB que só veio a se constituir em separado em 1967.

[2]: Idem, p. 127. A pergunta original de Jacob Gorender é: “como podia passar à ação imediata uma organização que carecia de vinculação orgânica com movimentos de massa”? A insinuação é bastante evidente para quem lê as entrelinhas de Combate nas trevas. Quanto a “Jamil” (“nome de guerra” de Ladislau Dowbor), ele criticava organizações como a POLOP e a Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares (VAR-Palmares) por chamar “uma minoria [o proletariado brasileiro] a lutar contra outra minoria insignificante [a burguesia brasileira], esquecendo a imensa maioria do povo que vive no desespero, e cuja participação no processo revolucionário é cada dia mais entendida como indispensável. No Brasil, o capitalismo não cava sua própria cova por constituir um proletariado, mas por impedir a sua constituição (…). Não queremos imaginar aqui um proletariado que inexiste como força revolucionária. Tentamos, isto sim, analisar a modificação de sua posição estratégica face à existência da marginalização econômica criada pelo imperialismo moderno” (em CHAGAS, Fábio André G. das. “As teses de ‘Jamil’ e a luta armada nos anos 1960-70”. Revista Brasileira de História e Ciências Sociais, vol. 1, nº 2, dez. 2009, p. 6).

[3]: REIS FILHO, Daniel Aarão. “Ernesto Martins, um revolucionário”. Em: SACHS, Eric. Andar com os próprios pés: discutindo uma estratégia de ação para os trabalhadores. Belo Horizonte: Sociedade Editora e Gráfica de Ação Comunitária (SEGRAC), 1994, pp. 24-25.

[4]: Idem, p. 25.

[5]: MEYER, Victor. “Frágua inovadora: o tormentoso percurso da POLOP”. Em: CENTRO DE ESTUDOS VICTOR MEYER (org.). POLOP: uma trajetória de luta pela organização independente da classe trabalhadora. Salvador: Centro de Estudos Victor Meyer, 2009, p. 272-273.

[6]: “Dos 80 processados por ligação com a POLOP (…), 2,5% [ou seja: 2] eram artistas, 3,7% autônomos, 3,7% empregados, 1,3% empresários, 26,2% estudantes, 2,5% funcionários públicos, 20% militares de baixa patente, 1,35 oficiais militares, 13,8% professores, 15,5% profissionais liberais ou com formação superior, 2,5% técnicos médios, 3,7% trabalhadores manuais urbanos, 1,3% outros, além de cinco militantes cuja ocupação não consta. Comparando estes dados com as médias gerais das diversas organizações, é possível constatar que os percentuais de estudantes, professores e profissionais liberais que foram processados como militantes da POLOP são compatíveis com as médias gerais do conjunto das organizações (24,5% de estudantes, 8,6% de professores e 16,2% de profissionais liberais). Chamam a atenção, entretanto, a pequena proporção de trabalhadores manuais urbanos (3,7% contra 13,5% no geral das organizações) e o alto grau de participaçãodos militares de baixa patente (20% na POLOP contra 3,2% na média geral)”. Dados compilados por Marcelo Ridenti com base no Projeto Brasil Nunca Mais e citados por MATTOS, Marcelo Badaró. “Em busca da revolução socialista: a trajetória da POLOP (1961-1967)”. Em: RIDENTI, Marcelo e REIS FILHO, Daniel Aarão (orgs.). História do marxismo no Brasil, vol 5: partidos e organizações dos anos 1920 aos 1960. 1ª ed., 1ª reimpr. Campinas: EdUNICAMP, 2007, p. 200. Se os trezentos militantes estimados por Otavino Alves da Silva como número máximo de integrantes da POLOP estiver correto (POMAR, Valter. “Memória: Otavino Alves da Silva”. Em: Teoria e Debate, nº 24, mar./abr./mai. 1994), pode-se dizer que um em cada quatro militantes da POLOP conheceu os cárceres da ditadura.

[7]: SADER, Emir. Texto da orelha. Em: WARTH, Samuel e STOTZ, Eduardo (orgs.). Conquistas e impasses do socialismo: seleção de textos inscritos na tradição da Organização Revolucionária Marxista – Política Operária. Rio de Janeiro: Centro de Estudos Victor Meyer (CVM), 2011. Emir Sader menciona que o congresso teria sido realizado num certo “Palácio da Uva” que ele mesmo nomeia entre aspas; embora isto dê pistas do imóvel onde aconteceu o congresso, a localização ainda é incerta.

[8]: Depoimento de Gabriel Cohn, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 47.

[9]: “Acerca do autor e sua obra”. Em: SACHS, Eric. Qual a herança da Revolução Russa? E outros textos. Belo Horizonte: Sociedade Editora e Gráfica de Ação Comunitária (SEGRAC), 1988, p. 5.

[10]: SACHS, Érico Czackes. “Currículo”. A reedição impressa e divulgação na internet dos documentos de Eric Sachs, da POLOP e outros do mesmo contexto tem sido feita com paciência, disciplina e muito esmero pelo Centro de Estudos Victor Meyer (CVM), sediado em Salvador (BA). Sua atividade editorial preenche um hiato historiográfico na esquerda brasileira ao disponibilizar amplamente documentos que de outra maneira somente seriam encontrados em arquivos pessoais ou em poucos arquivos de instituições universitárias; seu sítio na internet disponibiliza os documentos à medida em que são digitalizados.

[11]: Idem.

[12]: “Acerca do autor e sua obra”, ob. cit., p. 5.

[13]: A Oposição de Direita, oficialmente conhecida como Oposição Comunista Internacional, existiu nos anos 1920 e era composta por partidos e organizações alinhadas com os posicionamentos de Nikolai Bukharin e Alexey Rykov. Segundo Trotsky (Agrupamentos na Oposição Comunista, carta de 31 de março de 1929), as diferentes correntes em que se dividira o partido bolchevique nos anos 1920 representavam diferentes interesses de classe: “na URSS vemos a ala direita interligada com a intelligentsia educada e os pequenos proprietários; o centro pendendo entre as classes na corda bamba da burocracia; e a ala esquerda representando a vanguarda da vanguarda proletária [!!] na época da reação”. Bukharin e Rykov não tentaram organizar um movimento internacional como Trotski, pois capitularam a Stalin e admitiram sucessivas vezes seus “erros ideológicos”; foram seus aliados na Internacional Comunista que, ao serem dela expulsos, buscaram articular seu retorno através de uma atuação internacional conjunta. Dentre outros, integraram a Oposição Comunista Internacional o Partido Comunista de Oposição de Brandler e Thalheimer (Alemanha); o Partido Comunista (Oposição) de  Jay Lovestone e Bertram Wolfe (EUA); o Bloco Operário e Camponês de Joaquin Maurín na Espanha (um dos embriões do Partido Operário de Unificação MarxistaPOUM, célebre por sua atuação durante a Guerra Civil Espanhola); o Partido Socialista de Karl Kilbom (Suécia); a Oposição Comunista de Willi Schlamm e Joseph Klein (Áustria); a tendência polonesa dos “três W” (Adolf Warski, Henryk Walecki e Wera Kostrzewa); o breve Partido da Unidade Proletária (França); e o Mot Dag norueguẽs. Suas poucas diferenças com os partidos comunistas oficiais e com a própria Internacional Comunista diziam respeito à democracia interna e a divergências quanto às políticas do terceiro período e das frentes populares; quanto ao resto, suas tentativas de retorno à Internacional Comunista resultaram no seu apoio aos planos quinquenais e à coletivização agrária, e mesmo a alguns dos primeiros processos de Moscou. Quando os processos de Moscou atingiram diretamente Bukharin, levando-o à sua famosa e controversa confissão, surgiram disputas na Oposição Comunista Internacional sobre a real necessidade de afirmar-se enquanto tendência da Internacional Comunista ou, ao invés disso, de criar uma nova Internacional, como Trotski já encaminhava. Estas disputas esfacelaram a Oposição Comunista Internacional, que já fraquejava desde 1933, quando a ascensão do nazismo atingiu duramente o Partido Comunista de Oposição (seu principal integrante). As organizações sobreviventes – muitas haviam sido desmanteladas pela repressão em seus países de origem – dispersaram-se completamente ou retornaram a seus partidos de origem, até que uma conferência  em fevereiro de 1938 decidiu pela fusão com o Birô Internacional pela Unidade Revolucionária Socialista (também conhecido como “birô londrino”).

[14]: OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 45. A autora desta dissertação – uma das poucas sobre a POLOP disponíveis ao público – tentou, sem sucesso, contatar o artista para investigar este inusitado parentesco.

[15]: 1939 é o momento da cisão entre a primeira geração trotskista – a de Mário Pedrosa, Lívio Xavier, Aristides Lobo, Rodolfo Coutinho etc. – e a geração de militantes oriunda do “racha paulista” liderado por Hermínio Sachetta. Além de haver mencionado este assunto de passagem na segunda parte de meu ensaio Mário Pedrosa político, recomendo sobre o período a leitura do livro de Dainis Karepovs sobre o “racha paulista” (Luta subterrânea: o PCB em 1937-1938. São Paulo: Hucitec/UNESP, 2003).

[16]: “Nota explicativa”. Em: SACHS, Eric. Andar com os próprios pés: discutindo uma estratégia de ação para os trabalhadores. Belo Horizonte: Sociedade Editora e Gráfica de Ação Comunitária (SEGRAC), 1994, p. 6.

[17]: PONTES, Heloísa. “Entrevista com Antonio Candido”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 16, nº 42, out. 2001.

[18]: Walter Krivitsky fora espião da URSS até 1937, quando o assassinato de seu amigo Ignace Poretsky levou-o a buscar apoio na Oposição Internacional de Esquerda através de Leon Sedov, filho de Trotski. Em 1938 fugiu para os EUA, onde escreveu e publicou o livro In Stalin’s secret service [No serviço secreto de Stalin] (New York: Harper Brothers, 1939), a que Antonio Candido se refere. Krivitsky foi encontrado morto em 10 de fevereiro de 1941, num aparente suicídio com fortes suspeitas de assassinato político.

[19]: SADER, Eder e BUCCI, Eugênio. “Memória: Antonio Candido”. Em: Teoria e Debate, 02, mar. 1988.

[20]: Parentes de Laponésio Batista e Antonio Candido de Mello – que, ao que tudo indica, eram primos – há algum tempo buscavam informações sobre ambos, em especial sobre o primeiro. Talvez não saibam de sua ligação com este capítulo da história brasileira.

[21]: PONTES, Heloísa. “Entrevista com Antonio Candido”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 16, nº 42, out. 2001.

[22]: SADER, Eder e BUCCI, Eugênio. “Memória: Antonio Candido”. Em: Teoria e Debate, 02, mar. 1988.

[23]: “Nota explicativa”. Em: SACHS, Eric. Andar com os próprios pés: discutindo uma estratégia de ação para os trabalhadores. Belo Horizonte: Sociedade Editora e Gráfica de Ação Comunitária (SEGRAC), 1994, p. 6.

[24]: SACHS, Érico Czackes. “Currículo”.

[25]: Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 46.

[26]: SACHS, Érico Czackes. “Currículo”.

[27]: Agradeço a Fernando Prado por haver enviado CD-ROM com a primeira edição da revista, digitalizada.

[28]: Arbeitpolitik (“Política operária”) foi o nome de duas publicações. A primeira, lançada em 1º de janeiro de 1930, foi o diário da Oposição Internacional de Direita, cuja periodicidade foi gradualmente sendo alargada até ser transformado num semanário em 1932 (ALEXANDER, Robert J., The Right Opposition: the lovestoneites and the International Communist Opposition of the 1930s. Westport, CT: Greenwood Press, 1981, p. 141). A segunda foi o veículo homônimo do Gruppe Arbeitpolitik (Grupo Política Operária), ativo entre 1949 e 1956 na Grã-Bretanha, do qual Heinrich Brandler foi o principal animador (SCHÖENHOVEN, Klaus. “Heinrich Brandler”. Em: LANE, A. Thomas (org.). Biographical dictionary of european labor leaders: A-L. Westport, CT: Greenwood Press, 1995; pp. 130-131).

[29]: Tendo nascido em 1922, Eric Sachs tinha 35 anos em 1957.

[30]: Depoimento de Moniz Bandeira. Em OLIVEIRA, Joelma Alves de. POLOP: as origens, a coesão e a cisão de uma organização marxista (1961-1967). Dissertação de mestrado em História. Araraquara: UNESP, 2007, p. 42.

[31]: Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira, em COGGIOLA Oswaldo. “O Trotskismo no Brasil (1928-64)”. Em: MAZZEO, Antônio Carlos. e LAGOA, Maria Izabel.(orgs). Corações vermelhos: os comunistas brasileiros no século XX. São Paulo: Cortez, 2003.

[32]: Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 50.

[33]: MARINI, Ruy Mauro. “Memória”.

[34]: Fosse a POLOP formada na década de 1930, seria bastante plausível dizer que se tratava de exilados espanhóis fugidos da repressão franquista que buscavam retomar sua militância nas Américas, mas na década de 1960 a vasta maioria destes emigrados já havia encontrado “seu lugar” entre os anarquistas, trotskistas ou comunistas. Mais difícil ainda, na época, é crer que se tratava de anarquistas convertidos ao marxismo. Tratava-se, muito provavelmente, do grupo de militantes do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) no exílio, que realizara com anarquistas, o POR, a LSI e a Juventude Socialista um ato independente no 1º de Maio de 1959, como visto na parte anterior deste ensaio.

[35]: POMAR, Valter. “Memória: Otavino Alves da Silva”. Em: Teoria e Debate, 24, mar./mai. 1994.

[36]: Depoimento de Theotônio dos Santos, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 53.

[37]: VANUCCHI, Paulo e SPINA, Rose. “Memória: Paul Singer”. Em: Teoria e Debate, 62, abr./mai. 2005.

[38]: Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 53.

[39]: Depoimento de Pery Falcón, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 54.

[40]: Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 53.

[41]: Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 51. Otavino Alves de Souza diz que Luiz Paulo de Pilla Vares, militante do POR, teria sido “um dos delegados de fundação da POLOP” (POMAR, Valter. “Memória: Otavino Alves da Silva”. Em: Teoria e Debate, 24, mar./mai. 1994), o que contradiz a informação de que ninguém do POR entrou na POLOP. É fato que Pilla Vares militou na POLOP, mas não há como dizer se entrou na organização já no congresso fundador, em 1961, ou pouco tempo depois, como Ceici Kameyama.

[42]: Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., pp. 48.

[43]: Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 53.

[44]: Depoimento de Michael Löwy, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 51.

[45]: Trata-se do longo ciclo de lutas populares associado com os governos “populistas” da América Latina, cuja primeira fase iniciou-se com o Bogotazo (1948) e foi encerrada com a própria Revolução Cubana (1959). Nestes onze anos, a violência política e os golpes de estado tornaram-se rotina, e o envolvimento estadunidense nestas ações – ora aberto, ora velado – recrudesceu entre trabalhadores urbanos e camponeses sentimentos nacionalistas já em cultivo desde as décadas de 1920 e 1930. É impossível tratar do assunto mais aprofundadamente no curto espaço de uma nota de rodapé, mas ao menos é possível indicar de passagem os principais sujeitos políticos deste ciclo (além das massas de trabalhadores urbanos e camponeses): (a) políticos próximos ao socialismo ou ex-socialistas, tornados militantes de partidos liberais quando de sua chegada ao poder, como Jorge Eliécer Gaitán (Colômbia, 1948) e Luís Muñoz Marín (Porto Rico, 1949-1965); (b) organizações criadas como forma de “adaptação nacional” do socialismo, como a Ação Popular Revolucionária Americana (APRA) peruana liderada por Victor Raúl Haya de la Torre, o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) de Victor Paz Estenssoro (1952-1956, 1960-1964), ou o Partido Revolucionário Nacional (PRN) de Plutarco Elías Calle e Lázaro Cárdenas, depois Partido da Revolução Mexicana (PRM) e por fim Partido Revolucionário Institucional (PRI); (c) políticos que, na fronteira com o fascismo ou dele egressos, seguiram carreira no pós-guerra como “nacionalistas pragmáticos”, como Juán Domingo Perón (1946-1955) e Getúlio Vargas (1950-1954); (d) ditaduras calcadas em políticas de concessões aos trabalhadores, como aquelas de Manuel Odría (Peru, 1950-1956); (e) políticos simplesmente favoráveis ao desenvolvimento econômico em moldes capitalistas, empurrados a fazer reformas econômicas profundas devido à situação de seus países, como Jacobo Árbenz Guzmán (Guatemala, 1951-1954). Comum a todos os governos latino-americanos do período foi a implementação, ou as tentativas abortadas de implementação, de políticas de reforma agrária, industrialização ou construção de infraestrutura logística e energética, reconfigurando, ou tentando reconfigurar, as matrizes da produção econômica e as instituições do poder político. Igualmente comum foi a mobilização de vastas massas de trabalhadores urbanos e camponeses que, obtendo concessões na forma de direitos trabalhistas e econômicos, levaram a fortes tensões políticas a partir de sua radicalização. Para um panorama destes – e outros – regimes ditos “populistas”, cf. IANNI, Octavio. A formação do Estado populista na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975; FERREIRA, Jorge (org.). O populismo e sua história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. Marini estava certo ao lembrar da influência das lutas deste período sobre a Revolução Cubana: para ficar em dois exemplos mais conhecidos, e sem tratar dos efeitos de lutas tão duradouras sobre os trabalhadores e camponeses que as travaram, poucos lembram, mas Fidel Castro aos 22 anos participou ativamente do Bogotazo, pois encontrava-se em Bogotá no dia do assassinato de Jorge Eliécer Gaitán para um congresso estudantil, tendo inclusive encontrado-se duas vezes com Gaitán; da mesma forma, antes de seguir em sua carreira revolucionária Ernesto Guevara tentara diversas vezes ser médico do Estado na Guatemala sob o regime de Árbenz, e viveu tanto o período das reformas quanto o golpe de 1954.

[46]: Depoimento de Luiz Alberto Moniz Bandeira, em OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 51.

[47]: Depoimento de Theotônio dos Santos em MORAES, Denis de. A esquerda e o golpe de 64. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1989, p. 68.

[48]: OLIVEIRA, Joelma Alves de, ob. cit., p. 54.

[49]: SALES, Jean Rodrigues. O impacto da revolução cubana sobre as organizações comunistas brasileiras (1959-1974). Tese de doutorado em História. Campinas: UNICAMP, 2005, p. 180.

[50]: SACHS, Eric. “Convocatória para o 1º Congresso da POLOP”. Em: SACHS, Eric. Andar com os próprios pés: discutindo uma estratégia de ação para os trabalhadores. Belo Horizonte: Sociedade Editora e Gráfica de Ação Comunitária (SEGRAC), 1994, p. 72-83.

2 COMENTÁRIOS

  1. Li todo o texto sem duvida,falta muita história a ser contada, procurem-me que falarei mais

  2. Nos textos que em geral falam sobre o Erico o apresentama como um militante duro,exigente,em parte procede,porem há um lado humano que pouco se fala.Eu tive uma amisade militante,
    a´té já afirmei que o Erico para mim foi uma Referencia como
    nos tempos do PCB,foi o Carlos dos Santos Friedrik,austriaco
    como o é evidente que o Carlos não exercia a liderança que o
    “Velho” pois ele alem da melhor formção marxista trabalhou um
    projeto para um Brasil Socialista.
    A nossa amisade fazia sentido por eu ser operario e dirigente
    sindical,embora não cbia em seu projeto disputa por direçõs sindicais.
    Como Alcides Milton e eu eramos dirigentes do Sindicato dos Marceneiros em BH.e moravamos na cidade industrial.O ultimo de Belo Horizonte saia as 11 horas e nós tinhamos que caminhar 5Ks apé ele nos falou”a caixa da oranização em Minas não pode comprar 3 bicicletas para voces?”nós dissemos que não precisava.Outra vez o Milton estava com problema nas vistas ele fez a mesma pergunta demos a mesma resposta porem fizemos uma coleta entre os marceneiro e compramos os óculos para o Milton

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