Por Passa Palavra

 

Com data de 24 de Novembro de 2013 foi divulgado um Guião Político para as Europeias de 2014, assinado por Alexandre Abreu, João Rodrigues e Nuno Teles. Como as ideias contidas neste documento são muito difundidas na esquerda, vale a pena analisá-las com certo detalhe.

1.

Guião Político pretende que «dados os diferenciais de desenvolvimento, desemprego, salários, modelos de Estado Social e a fraca identidade europeia, não pode ser expectável que países com pouco peso na UE [União Eropeia] tenham aí o poder e a autonomia suficientes para alavancar a sua mudança estrutural» e que «as condições objetivas dos povos são diferentes e, não obstante os campos de luta comum, os seus interesses, traduzidos politicamente, também são diferentes, penalizando os países mais atrasados e com menos poder» (pág .7).

Será assim? Vale a pena lembrar que dois dos principais países actuais tiveram pontos de partida políticos e sócio-económicos muito mais problemáticos do que a União Europeia. A Federação Russa, embora tenha resultado da dissolução de um país, não parece menos sólida pelo facto de existirem entre as suas partes constitutivas diferenças económicas e culturais maiores dos que as que existem entre os países membros da União Europeia. E é com frequência esquecido que a Guerra da Secessão não se destinou a colocar os negros no mesmo plano que os brancos mas a impor uma maior centralização aos estados do sul e a garantir a exclusividade ao modo de produção capitalista, liquidando a produção escravista. Daí resultaram os modernos Estados Unidos, enquanto no caso europeu nem sequer existe um choque entre diferentes modelos capitalistas, muito menos entre dois modos de produção.

E será que as discrepâncias se atenuariam e os pequenos Estados ficariam reforçados se em vez de estarem ligados por uma união económica e política estivessem simplesmente ligados pelas transacções internacionais?

2.

Guião Político apresenta a perda parcial de soberania do Estado português como se decorresse da integração na União Europeia e na zona euro, quando as perdas de soberania decorrem fundamentalmente de três factores: 1) a disparidade entre potências, observável desde o início do capitalismo, 2) a internacionalização do capital, crescente desde o final do século XIX, e 3) a transnacionalização do capital, vigente desde as últimas décadas do século passado. Estes factores verificam-se em todos os países e não só no que ficou à beira-mar plantado. Especialmente relevante para o declínio das soberanias é a transnacionalização do capital, porque torna as companhias transnacionais imunes, em grande medida, às decisões dos Estados.

Assim, mesmo que Portugal saísse da zona euro e abandonasse a União Europeia, a sua soberania continuaria afectada. Ou seja, «o essencial dos instrumentos de condução da política socioeconómica» (págs. 1-2) não poderá ser restaurado por nenhuma decisão tomada no âmbito político português. Aliás, parece-nos espantoso que as reflexões do Guião Político sejam feitas em termos de potências, como se ainda estivéssemos nos dias do Ultimatum, em vez de se ver o que é realmente imperante: a internacionalização do capital e a dinâmica transnacional das empresas mais significativas. A saída de Portugal da zona euro (proposta nas págs. 9 e segs.) é entendida como «a recuperação da soberania monetária» (pág. 9). Nas condições da nossa época, porém, a soberania monetária não existe, antes de mais porque as deslocações de divisas realizadas diariamente no mercado mundial de capitais são de tal ordem que, se jogarem maciçamente contra uma dada moeda, qualquer que seja, nenhum país tem reservas suficientes para lhes responder.

3.

Uma aritmética simples pode servir de introdução a esta ciclovia de preocupações nacionalistas, pois enquanto os termos naçãonacionalsoberania e Estado aparecem, no seu conjunto, 46 vezes no Guião Político, os termos classe e trabalhadores surgem 9 vezes. Limitar-se-á esta disparidade ao plano das palavras ou terá algum significado conceptual?

O núcleo do Guião Político, do qual tudo o mais decorre, reside na afirmação de que «estamos a fundir uma questão nacional politicamente potente – a da independência do país, […] com a indeclinável questão social – a da manutenção e reforço de um Estado social […] que não sobrevive sem instituições públicas […] que criam uma comunidade de destino, o cimento de uma primeira pessoa do plural que é sempre o ingrediente de todas as grandes transformações socialistas» (pág. 2). Apesar da roupagem democrática, temos aqui mais uma fusão do social com o nacional, que nunca deixou de produzir resultados trágicos. É deveras assustador que se tenha a tal ponto perdido a noção da dinâmica que levou ao aparecimento e à expansão dos fascismos. Essa dinâmica consistiu na convergência entre a enxertia do nacional no social, operada à esquerda, e a enxertia do social no nacional, operada à direita. Quando Enrico Corradini, ainda antes da primeira guerra mundial, cunhou o sintagma nação proletária, fundindo o nacional e o social, ele não se limitou a lançar a base do que seria internamente o fascismo, mas também legitimou a sua expansão externa, entendida como luta das nações proletárias contra as nações plutocráticas.

Guião Político afirma que «a esquerda que abandone o combate pela fusão destas duas questões», ou seja, a questão nacional e a questão social, «está a condenar-se a uma merecida irrelevância» (pág. 3). Possivelmente, e importaria aqui compreender porque se tornou natural a esquerda debater os efeitos de uma crise económica e financeira sobre a classe trabalhadora como se se tratasse de um debate sobre a soberania nacional. Pela nossa parte, porém, e apesar da «merecida irrelevância», afirmamos que o objectivo mais urgente da esquerda é combater a fusão daquelas duas questões, impedir que o nacional seja uma condição do social.

Mas grassam em Portugal estranhas confusões a este respeito, porque embora a esquerda evoque a nação e a soberania com o mesmo empenho com que a extrema-direita o faz, recorre a curiosos artifícios para disfarçar a incómoda vizinhança. Uns baptizam-se de patrióticos, como se isto os absolvesse do nacionalismo. Neste caso, Alexandre Abreu, João Rodrigues e Nuno Teles previnem que o Guião Político «não é uma proposta com objetivos ou princípios nacionalistas de fechamento, uma vez que considera o desmantelamento da UEM [União Económica e Monetária] como uma condição necessária para o progresso das classes populares em toda a Europa — não apenas em Portugal —, podendo e devendo fazer-se acompanhar por novas modalidades progressistas de cooperação entre Estados […]» (pág. 12). O internacionalismo fica assim convertido numa soma de nacionalismos, o que é o seu exacto oposto. Quando Marine Le Pen, presidente do Front National (Frente Nacional), conduz o principal partido da extrema-direita francesa para as eleições europeias deste ano dizendo que «é necessário aguardar que tudo se desmorone, contribuindo para isso se possível, para fazer emergir um projeto de uma Europa de nações livres […]», como se distinguirá ela do peculiar internacionalismo dos autores do Guião Político? Na mesma ordem de ideias, Geert Wilders, chefe do Partij voor de Vrijheid (Partido da Liberdade), a principal organização da extrema-direita holandesa, declarou: «Efectivamente, penso que a nossa geração de políticos será capaz, pela primeira vez, de se mostrar diferente e recuperar o que nos pertence, isto é, a soberania nacional» (The Economist, 4 de Janeiro de 2014, pág. 18).

4.

É nesta perspectiva nacionalista que Alexandre Abreu, João Rodrigues e Nuno Teles analisam os problemas económicos.

Afirmam eles no Guião Político: «O problema maior da economia portuguesa foi, desde o final dos anos noventa, a sua progressiva perda de competitividade externa no quadro do Euro e a liberalização comercial e financeira promovida à escala continental pela integração europeia e aceite pelas elites nacionais» (págs. 3-4). Porém, a competitividade da economia portuguesa, na medida em que existiu, sempre assentou em baixos salários e não na produtividade das empresas. As dificuldades fundamentais da economia portuguesa não se devem aos capitalistas estrangeiros mas aos empresários portugueses, que são retrógrados, e ao tecido empresarial português, que é arcaico. Já desde os anos finais do fascismo a adesão ao espaço comunitário europeu era sentida como uma condição imprescindível para a modernização da economia nacional, e se os fundos provenientes da União Europeia foram aplicados na construção de auto-estradas que levassem os camiões TIR aos centros comerciais faraónicos, isso não se deveu à malevolência dos alemães mas à tacanhez dos empresários portugueses.

Guião Político evoca «uma requalificação da economia portuguesa, capaz de assegurar a substituição de importações e de promover exportações de elevado conteúdo tecnológico» (pág. 6). Mas esta estimável ambição não poderá ser prosseguida em isolamento numa época de transnacionalização económica, quando os avanços tecnológicos já não se fazem dentro de fronteiras. Aliás, essa requalificação tinha-se encetado no âmbito da União Europeia, já que até uma data recente houve um esforço sistemático para converter as universidades e os centros de pesquisa portugueses em pólos formadores de uma força de trabalho altamente qualificada e de microempresas capazes de competir em nichos rentáveis do mercado mundial. Circunscrito ao âmbito universitário, este projecto deparou com a indiferença dos meios empresariais. Foi ultimamente interrompido, devido a cortes orçamentais mal orientados, mas não poderá recomeçar fora da União Europeia, porque hoje a actividade científica de ponta e a inovação tecnológica processam-se exclusivamente no plano supranacional.

A comparação com a situação da Irlanda é instrutiva. Um país que até à década de 1980 estivera na cauda económica da Europa ocidental e cujos empresários, com a adesão ao mercado comum, apostaram nos mecanismos da produtividade e da mais-valia relativa, atingiu na União Europeia em 2012 o terceiro lugar do Produto Interno Bruto per capita (calculado em paridade do poder de compra), indicador em que foi apenas ultrapassado pelo Luxemburgo e pela Áustria. Apesar da quase derrocada do seu sistema financeiro e perante a austeridade violentíssima sofrida pelos trabalhadores, o empresariado irlandês soube aproveitar a inclusão na União Europeia para desenvolver um capitalismo moderno e internacionalizado.

Seria bom que a esquerda portuguesa antieuropeísta deixasse de fazer comparações espúrias entre Portugal e Chipre e se dedicasse a analisar a raiz das diferenças entre Portugal e a Irlanda. Mas para isso seria necessário abandonar a dicotomia criada por Álvaro Cunhal para desnaturar o salazarismo, em que de um lado nos era apresentado «um punhado de monopolistas traidores» e do outro «os portugueses honrados», e que ressurge agora no Guião Político com a evocação das «elites dependentes do capital financeiro» (pág. 9). Os responsáveis pelo atraso do capitalismo português encontram-se na esmagadora massa retrógrada dos empresários portugueses.

5.

Guião Político considera que o facto de Portugal abandonar a zona euro permitir-lhe-ia proceder a uma desvalorização cambial que 1) aumentasse «a competitividade-preço da produção nacional» e 2) possibilitasse a «capacidade de o Estado se financiar junto do seu Banco Central» (pág. 9).

É interessante verificar como economistas que criticam a chamada financeirização da economia vêm agora propor medidas no plano financeiro para resolver problemas que têm a sua origem no plano produtivo. Em que ficamos?

Aliás, é incompreensível que os autores deste Guião se sintam à vontade para afirmar que «a inflação provocada pela desvalorização é inferior em termos relativos à própria desvalorização» (pág. 10). Quais os fundamentos desta afirmação prodigiosamente optimista? Em que modelo econométrico se baseiam para apresentar o resultado de uma comparação entre duas variáveis decorrentes de inúmeros factores que extravasam o âmbito nacional? É igualmente incompreensível que o Guião coloque esta hipótese: «Nos casos em que a dívida externa não puder ser redenominada na nova moeda […]» (pág. 11). Mas será que realmente Alexandre Abreu, João Rodrigues e Nuno Teles imaginam que haverá algum caso significativo em que os credores estrangeiros — a quem, nas páginas anteriores do Guião, atribuíram um tão elevado grau de omnipotência — aceitem que dívidas contraídas em euros possam ser pagas em escudos que nem valem um tostão? Do mesmo modo, o que eles escrevem quanto às medidas a tomar para evitar uma crise cambial (págs. 11-12) pode ser apreciado como lucubrações no reino da fantasia. Num contexto de produtividade estagnante, de retaliações proteccionistas — já que a União Europeia recebe mais de 70% das exportações portuguesas — e de especulação contra um escudo de pechisbeque, é impossível pretender que a inflação não explodiria ou que se conseguiria controlar as taxas de juro.

É igualmente uma ingenuidade acreditar que no caso de uma saída unilateral da zona euro, a dado o actual contexto de ausência de lutas sociais autónomas a nível europeu, não ocorreria a completa ruptura do sistema bancário. Se a mera trapalhada de um ministro fanfarrão ajudou a disparar os juros da dívida pública, no dia em que se começasse a falar da possibilidade de uma saída de Portugal da zona euro quem conseguiria evitar uma fuga massiva de capitais num grau muitíssimo superior ao que sucedeu nos últimos anos? Quem conseguiria evitar a falência dos bancos e a consequente erosão dos depósitos e poupanças?

6.

O programa proposto na pág. 9 do Guião Político (desvalorização cambial que aumentasse «a competitividade-preço da produção nacional» e possibilitasse a «capacidade de o Estado se financiar junto do seu Banco Central») significa que 1) o eventual carácter concorrencial das exportações portuguesas continuaria a dever-se a baixos custos, que redundariam em baixos preços de venda ao exterior devido à desvalorização da moeda, e não ao trabalho qualificado e ao valor acrescentado. Significa igualmente que 2) o Estado recorreria à inflação para se financiar. É este o miolo da coisa.

Contra a austeridade o Guião Político propõe uma catástrofe ainda maior, a estagnação decorrente de uma economia de baixos salários e baixos custos, acompanhada pela inflação. Alexandre Abreu, João Rodrigues e Nuno Teles reconhecem que «a desvalorização cambial traduzir-se-á num aumento da inflação (por via da componente importada da despesa)» (pág. 10). Mas os efeitos são piores, já que essa inflação seria necessariamente galopante. Um Estado que, numa economia estagnante, dependa do Banco Central para financiar o acréscimo das suas despesas só conseguirá sustentar-se com novas emissões de moeda, justificadas suplementarmente, se recorrermos aos critérios do Guião Político, por provocarem novas desvalorizações cambiais que reduzissem ainda mais o preço dos bens de pacotilha exportados.

Em suma, a estagflação, que ditou a certidão de óbito do keynesianismo, é anunciada agora como a nova política redentora de esquerda.

Pior ainda, porque o keynesianismo surgiu contra os nacionalismos e teve como um dos fundamentos o aumento da internacionalização, enquanto agora se pretende resolver através do nacionalismo uma crise situada no contexto de uma economia totalmente internacionalizada. A propósito da renegociação da dívida motivada pela passagem do euro ao escudo, é esclarecedor que o Guião Político considere que «no caso das grandes empresas portuguesas que se endividaram diretamente no exterior, estas terão que proceder a um recentramento da sua atividade, vendendo os seus ativos externos para a pagar a sua dívida, no que poderá aliás traduzir-se num salutar retorno de atividade ao nosso país» (pág. 11). É difícil acreditar que, numa época em que a transnacionalização faz parte das condições indispensáveis ao aumento de produtividade das grandes empresas, haja economistas a propor seriamente que as poucas empresas portuguesas que dispõem de uma presença internacional a abandonem e se confinem ao sagrado torrão. Se isto sucedesse, mais grave ainda se tornaria a estagnação económica do país.

Teríamos o capitalismo financeiro substituído pelo capitalismo de pé-de-meia. A questão do socialismo num só país foi crucial para definir os rumos do jovem Estado soviético, mas os autores do Guião Político vão mais longe e apresentam-nos o capitalismo num só país.

7.

Reivindicar, no plano político, o reforço da soberania nacional não é mais do que, no plano económico, absolver os sectores das classes dominantes que em Portugal menos se interessaram pelos mecanismos da produtividade e da mais-valia relativa. São precisamente estes os sectores que, se o país abandonasse a zona euro, beneficiariam do abaixamento salarial e do aumento da inflação para exportar quinquilharia, continuando a apresentar no mercado estrangeiro bens com baixa componente tecnológica. Para os trabalhadores em Portugal isto significaria uma massa salarial ainda mais comprimida e a contratação de menos mão-de-obra qualificada, com o aumento da emigração dos mais qualificados e o agravamento da espiral de declínio. No âmbito de uma economia debilitada, a saída da zona euro implica o prolongamento indefinido da austeridade sobre os trabalhadores. A substituição de uma política capitalista de austeridade e recessão por outra política, não menos capitalista, de incentivos económicos poderá ser feita no quadro da União Europeia e da zona euro, desde que uma alteração do contexto político e social imponha a mudança das orientações predominantes de política económica. Mas nunca conseguirá efectuar-se no âmbito de um país pequeno e economicamente irrelevante.

Sobre os problemas colocados por uma resposta europeísta, os autores do Guião Político consideram que «dada a história recente da UE – e em particular da Zona Euro –, é uma ilusão política apostar determinada e prioritariamente num programa federal progressista» (pág. 7). Perante tal afirmação, importa perguntar: quais os dados na história recente portuguesa que tornam viável um programa económico nacional? Se o «modelo do mercado único, nos termos da ideologia liberal, constitui um traço matricial da construção europeia» (pág. 7), qual o traço matricial de uma alegada construção portuguesa que conduz ao cenário idílico delineado pelos autores? Na realidade, não só o processo revolucionário em curso (PREC) já ocorreu há 40 anos, como o seu desenlace, entre outros motivos, reflectiu o isolamento, aqui apontado como solução. É precisamente devido à diferença das condições objectivas dos povos (pág. 7) que propomos deixar de falar de povos e passar a falar de uma classe, transfronteiriça e unida por um projecto político comum. Mais do que procurar um traço matricial na história da Europa que nos sirva de guia, preferimos evocar um conjunto de experiências — desde os motins e confraternizações de ambos os lados das linhas de frente na primeira guerra mundial, passando pelos militantes de diferentes nacionalidades que rumaram a Espanha em 1936, até às manifestações antiglobalização nos inícios do século XXI — que comprovam a possibilidade desse projecto político, para lá da dimensão nacional. Não deixamos, contudo, de prestar atenção aos momentos na história da Europa do século XX em que o proletariado, dividido em nações, acabou por se massacrar a si próprio.

8.

Porém, o Guião Político apresenta (pág. 10) a situação decorrente da saída da zona euro como favorável à iniciativa dos trabalhadores e deixa implícita, sem nenhuma demonstração, a tese de que uma restauração da soberania, mesmo admitindo-a como possível, seria benéfica para a classe trabalhadora.

Isto corresponde a afirmar que é favorável aos trabalhadores um Estado nacional forte. Parece-nos curioso o apego que a esquerda tem ao capitalismo de Estado, apesar de tantas experiências negativas. Todavia, perante aquele programa de estagflação, no qual o Estado estaria activamente interessado, de que armas disporiam os trabalhadores para contra-atacarem ou, pelo menos, se defenderem? Já analisámos este cenário noutros artigos, por exemplo aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui. Ora, os protestos efectuados em Portugal contra a austeridade têm apresentado um perfil preocupante, já que se reduzem a manifestações de rua que não têm por base acções reivindicativas generalizadas nos lugares de trabalho. Isto significa que à capacidade de acção das burocracias do Partido Comunista e da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses não corresponde qualquer capacidade de iniciativa autónoma dos trabalhadores.

Se assim é nos dias de hoje, mais difícil ainda se tornaria aos trabalhadores adquirir a necessária iniciativa autónoma depois de abandonada a zona euro, numa situação económica de estagnação acompanhada de inflação e numa situação política de reforço do Estado. Sucederia o mesmo que tem ocorrido em todos os capitalismos de Estado: o agravamento da situação económica dos trabalhadores, acompanhado por uma perda de direitos políticos.

A quem interessa defender a soberania nacional se ela se sustentaria apenas sobre o empobrecimento da população e resultaria de uma aposta na divisão dos trabalhadores residentes no espaço europeu? Por que hão-de os trabalhadores neste país preferir capitalistas e burocratas portugueses aos capitalistas e burocratas estrangeiros? E por que os sectores capitalistas mais retrógrados, os portugueses, seriam preferíveis aos capitalistas europeus?

6 COMENTÁRIOS

  1. Segui na internet algumas discussões acerca deste artigo, e num caso houve quem admitisse a existência de um «patriotismo internacionalista» e afirmasse que o «nacionalismo de esquerda» «tende a não ser exclusivista», enquanto o «nacionalismo de direita» «tende a ser exclusivista». Aqui lembrei-me de várias coisas, por exemplo do confronto militar entre a República Popular da China e a República Socialista do Vietname em Fevereiro e Março de 1979, dois nacionalismos de esquerda que, segundo aquela regra optimista, deveriam tender a não ser exclusivistas. Lembrei-me também de que, por iniciativa da Itália e na ausência do partido nacional-socialista alemão, se realizou em Dezembro de 1934 a conferência de Montreux, na Suíça, reunindo representantes dos movimentos fascistas de quinze países europeus, o que constitui um caso em que o nacionalismo de direita não se mostrou exclusivista. Aliás, a respeito da ausência dos nacionais-socialistas germânicos de Montreux convém saber que Hitler, sobretudo na sua roda de íntimos, se pronunciou várias vezes contra o nacionalismo, precisamente por considerá-lo demasiado exclusivista. Contra a divisão numa multiplicidade de nações Hitler e Himmler defendiam a união em grandes grupos raciais. Assim, dos 900 mil homens que até ao final da guerra haviam passado pelos Waffen SS, menos de metade eram alemães originários do Reich. Como fica, perante estes factos, a pretensa divisão entre o carácter exclusivista atribuído ao nacionalismo de direita e o carácter não exclusivista atribuído ao nacionalismo de esquerda? Esquerda e direita não servem para diferençar os nacionalismos; o nacionalismo é que serve para ligar a direita e a esquerda numa teia perversa.
    É que a operação fundamental do nacionalismo não se dirige ao lado de fora das fronteiras, mas ao lado de dentro. O primeiro objectivo do nacionalismo é atrelar a classe trabalhadora de um país aos capitalistas desse país — mesmo que as suas empresas estejam inseridas nas redes internacionais do capital. O nacionalismo não se destina a preservar tradições e culturas, porque isso se faz dentro das unidades nacionais, tanto federadas como centralizadas. O objectivo do nacionalismo é, pura e simplemente, o reforço do poder de Estado. O nacionalismo é a via para o capitalismo de Estado. É para isto, e só para isto, que serve a junção do nacional ao social.
    Ora, o eixo da crítica feita ao Guião Político por este artigo — e li com atenção ambos os documentos — parece-me ser o da inanidade das soluções económicas defendidas numa perspectiva nacionalista. O absurdo económico da saída de Portugal do euro, da adopção de uma moeda desvalorizada e do recurso à inflação explicam-se ao sabermos que o seu objectivo político é o reforço do capitalismo de Estado, assente numa extensão da mais-valia absoluta.

  2. Caro João Bernardo,

    poderia subscrever praticamente tudo o que dizes. Gostaria, no entanto, de sublinhar a frase: “o nacionalismo é que serve para ligar a direita e a esquerda numa teia perversa” cujo inimigo principal é a democracia.
    Em segundo lugar, sublinharia também a tua afirmação; “O nacionalismo não se destina a preservar tradições e culturas”, acrescentando que a salvaguarda de tradições (enquanto motivos inspiradores) e criações culturais maiores (como as línguas, etc.) só teria a beneficiar com a descentralização, decorrente do enfraquecimento do colete de forças do Estado-nação, que um amplo movimento de democratização de natureza federalista acarretaria.

    Um abraço

    msp

  3. Para quem pensa que o nacionalismo da esquerda não é exclusivista talvez valha a pena dar um pulo a blogues de esquerda e ver o que pensam sobre o actual contexto. E isto é só uma amostra.

    Por exemplo, aqui – http://www.manifesto74.blogspot.pt/2014/01/muitas-barricadas-um-planeta.html – escreve-se o seguinte: «Palpitam as veias abertas do nosso planeta. Enquanto a tirania se lança sobre todos, cada povo levanta a sua barricada». Engraçado como a um ataque global por parte dos capitalistas a esquerda nacionalista acha que cada povo (curiosa noção que agrega classes exploradoras e classes exploradas) deve lutar por si mesmo.

    E aqui – http://5dias.wordpress.com/2014/01/15/de-joelhos-e-boca-aberta-para-engolir-armas-quimicas-que-mais-ninguem-aceitou/ – consegue-se ir ainda mais longe e ver na destruição de armas químicas um problema porque acontece em território português, porque se for em Nova Iorque ou noutro local já não haveria problema… Em vez de se criticar a dimensão intrinsecamente imperialista do capitalismo, a esquerda adopta a táctica da defesa do seu quadr(ad)o nacional. O problema é sempre a paranóia do ataque a solo nacional, nunca a dinâmica capitalista que ultrapassa fronteiras.

    Por outro lado, qualquer pessoa que veja espaços da internet conotados com a extrema-direita facilmente vê que eles defendem uma Europa das nações. Claro que a extrema-direita actual coloca a tónica na tese do património cristão comum anti-muçulmano, enquanto a esquerda nacionalista coloca a tónica numa Europa das nações livres e independentes, com cada povo a decidir o seu próprio destino. Mas raspando a tinta ideológica ritual à superfície, que tem uma importância a não negligenciar, também é indiscutível que existe uma partilha de caminhos que é perigosa. Esquece a esquerda nacionalista que levar milhares de militantes e de trabalhadores ao moinho do nacionalismo só fortalecerá o nacionalismo de direita. A nação será sempre um espaço por excelência das modalidades mais retrógradas do capitalismo, ainda e muito piores do que o capitalismo liberal. Tendo em conta que a alternativa nacionalista é impraticável do ponto de vista económico, isso significa que essas propostas da esquerda só servem para manter a ilusão de uma camada minoritária de trabalhadores relativamente à transnacionalização económica.

    Felizmente para a humanidade nem os tecnocratas nem os trabalhadores na sua generalidade reconhecem utilidade a essa esquerda retrógrada. Os primeiros porque estão comprometidos, no plano global, aos mecanismos da mais-valia relativa, enquanto a maioria da esquerda estrutura o seu projecto económico numa base da mais-valia absoluta. Os segundos, por razões opostas, porque têm um senso comum e uma razoabilidade de quem tem de lidar com as dificuldades da vida quotidiana, o que lhes permite perceber as ilusões que a esquerda pensa que poderia impingir.

  4. Já agora, acrescento alguma coisa na linha deste último comentário do João Valente Aguiar. Fala-se muito da crise de 1929 e estabelecem-se comparações com a crise actual. Ora, a crise de 1929 mundializou-se rapidamente porque havia um triângulo Estados Unidos → Alemanha → França + Inglaterra. A Alemanha estava obrigada pelo tratado de Versailles a pagar colossais indemnizações à França e à Inglaterra, sobretudo à França. Para isso precisava dos créditos fornecidos pelos bancos norte-americanos. E a França e a Inglaterra compravam bens aos Estados Unidos. A partir do momento em que os bancos norte-americanos entraram em crise o crédito fornecido à Alemanha se interrompeu, o triângulo deixou de funcionar. A causa da crise de 1929 nos Estados Unidos não foi o nacionalismo, mas o motivo que levou a crise a generalizar-se e a adquirir aquela amplitude foi o nacionalismo. Desde a própria assinatura do tratado de Versailles várias pessoas lúcidas, Keynes entre elas, tinham alertado para as consequências nefastas que decorreriam do nacionalismo inerente às reparações de guerra. E depois de mundializada a crise, na década de 1930, a questão do nacionalismo económico foi ainda a principal diferença entre as medidas propostas por Keynes e as decididas por Roosevelt no quadro do New Deal. Do mesmo modo, durante a guerra, na conferência de Bretton Woods as medidas mais francamente internacionalistas defendidas por Keynes não foram adoptadas e prevaleceu o plano norte-americano, concebido por White, que aliás, como depois se soube, estava secretamente ligado aos soviéticos, e que defendia um grau de internacionalização muito menor. Só depois da guerra, com o Plano Marshall, é que a internacionalização da economia foi plenamente adoptada como a estratégia capitalista mais lúcida. E é interessante que Ben Bernanke tivesse sido escolhido para presidir ao Fed por ser um especialista académico da crise de 1929. Enquanto isto se passa, vemos a esquerda propor medidas de incentivo económico de inspiração keynesiana, mas num quadro nacionalista que já há quase um século atrás o próprio Keynes considerava nefasto. O problema com o nacionalismo de esquerda não é só ele ser prejudicial à luta dos trabalhadores, mas é também o de ser arcaico.

  5. João Bernardo,

    Se não fosse o nacionalismo espontâneo e difuso na população de vários países europeus e se não fosse o nacionalismo consciente e divulgado como projecto político pela extrema-direita e pela esquerda, as respostas dos gestores em Bruxelas e em Frankfurt seria menos austeritária, pois teriam mecanismos de resposta muito mais eficazes. Basta pensar que desde que o Draghi disse que o BCE iria fazer tudo para manter o euro e que anunciou o programa de compra de dívida no mercado secundário que não houve mais nenhum programa de resgate e que a situação espanhola e italiana estabilizou. Ora, foi o colete de forças nacionalista que fez com que as instituições europeias tivessem demorado mais de dois anos a responder à crise. Foi o nacionalismo incrustado nalguns sectores de vários Estados nacionais europeus que impediu que as respostas dos gestores à crise financeira tenha tido um desenho parecido com o norte-americano. Aliás, foi esse nacionalismo que impediu uma arquitectura institucional europeia integrada, como o caso do BCE demonstra. Não só no que concerne à sua intervenção mais tímida relativamente ao FED (os estatutos do BCE são mais restritivos e são o produto do compromisso entre o federalismo dos capitalistas transnacionais e dos sectores capitalistas mais retrógrados nos espaços nacionais), como no que diz respeito ao papel de credor de última instância. Sobre este último aspecto é ridículo ver a esquerda clamar pelo empréstimo directo do BCE aos estados nacionais por duas ordens de razões. Primeiro, o BCE não faz isso porque, como disse, a sua actuação nesse sentido foi sempre impedido pelo compromisso “nem carne nem peixe” que foi alcançado anteriormente entre os sectores federalistas e os sectores mais nacionalistas que ficaram com medo de ceder mais poderes monetários a uma entidade europeia. Segundo, o BCE provavelmente irá querer acabar com o nexo entre o soberano e a banca, como a união bancária preconiza. Isso quer dizer que o negócio da dívida pública será possivelmente mais restrito e mais controlado, portanto, tentando minimizar a compra de dívida pública pela banca, nomeadamente os bancos com piores desempenhos no cumprimento dos critérios Basel. O objectivo do BCE e dos gestores é portanto, neste ponto, coincidente com os da esquerda: minimizar o financiamento à banca privada na compra de dívida pública de modo a tentar evitar futuros contágios entre o conjunto do sistema financeiro. A grande diferença é que os gestores querem criar uma rede articulada a nível global, mas que seja institucionalmente capaz de extirpar um banco que entre em falência sem comprometer a sustentabilidade dos restantes bancos e dos Estados que emitem dívida. A esquerda, pelo contrário, quer devolver poder aos bancos centrais nacionais, estatizar a banca e emitir moeda infinitamente para cobrir défices orçamentais num quadro estritamente nacional. Como se o pobre do Keynes alguma vez adoptasse as medidas dos que se reclamam como seus sucessores… Aliás, a esquerda continua a querer retirar do pensamento do Keynes o que ela pensa que seriam medidas económicas intemporais e imutáveis, agora aplicadas ao plano nacional. Ora, o Keynes como gestor lúcido que era, não desenvolveu a sua obra de acordo com princípios apriorísticos mas de acordo com as condições institucionais e económicas concretas do seu tempo. Os gestores de hoje fazem exactamente o mesmo, numa nova conjuntura. Com a vantagem de hoje terem mais instituições transnacionais de regulação, de terem um sistema financeiro simultaneamente mais volátil e mais articulado, de terem menos cisões internas, de dependerem menos de personalidades marcantes e carismáticas e de ligarem menos a ideólogos. Para os capitalistas, retirando considerações morais e filosóficas gerais sobre o mercado (Hayek, etc.) a sua actuação não se baseia na aplicação de princípios apresentados por um qualquer ideólogo ou pensador. Pelo contrário, são profundamente pragmáticos e actuam pelo que lhes permite relançar um novo ciclo económico e pelo que evite fricções internas.

    O pior disto é que a classe trabalhadora fica entalada entre dois fogos: entre uma hegemonia reforçada, complexa e bem oleada dos capitalistas e uma esquerda que só serve para difundir ilusões e evitar que os trabalhadores possam pensar e lutar numa base transnacional.

    Como diz o artigo acima, nós à esquerda temos de
    «deixar de falar de povos e passar a falar de uma classe, transfronteiriça e unida por um projecto político comum. Mais do que procurar um traço matricial na história da Europa que nos sirva de guia, preferimos evocar um conjunto de experiências — desde os motins e confraternizações de ambos os lados das linhas de frente na primeira guerra mundial, passando pelos militantes de diferentes nacionalidades que rumaram a Espanha em 1936, até às manifestações antiglobalização nos inícios do século XXI — que comprovam a possibilidade desse projecto político, para lá da dimensão nacional. Não deixamos, contudo, de prestar atenção aos momentos na história da Europa do século XX em que o proletariado, dividido em nações, acabou por se massacrar a si próprio».

    Se a esquerda compreendesse minimamente este trecho seria um avanço político imenso. Mas será que estes temas que se têm discutido neste espaço serão uma questão de mero debate e compreensão racional? Na medida em que o nacionalismo se baseia numa vertente fundamentalmente ideológica, temo bem que seja muito mais do que isso. E muito mais grave. Quanto mais a integração europeia avançar, mais e mais a esquerda será nacionalista. Quanto mais os capitalistas se internacionalizarem, mais se reforçarão, e mais os trabalhadores ficarão divididos entre si, mais os trabalhadores abrirão barricadas nacionais entre si. A nacionalização da classe trabalhadora é um processo interligado e necessário à transnacionalização das empresas. Quanto mais fragmentada a classe trabalhadora, mais coesa a classe dominante. À coesão transnacional dos capitalistas a grande parte da esquerda não quer responder com uma coesão transnacional dos trabalhadores, mas com a fragmentação nacional.

  6. Entretanto, encontrei no Resistir.info, um site ligado ao PCP, uma “pérola” de um dos gurus (http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2012/03/temos-que-sair-do-euro.html; http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2013/12/nao-sao-tolos-estes-romanos.html) dos defensores da saída do euro. Pelos vistos o guru Sapir considera que, ao contrário das tentativas de quadratura do círculo (http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/01/depois-queixem-se.html), afinal a Le Pen é uma aliada e é para levar a sério.

    Aqui fica a transcrição do Sapir, em jeito de resposta às críticas que equivalem a defesa da saída do euro com as teses de Marine Le Pen. Resposta que é antes uma concordância com uma aliança política com a extrema-direita:

    «13- Tem razão, naturalmente, mas dissolver o Euro equivale a dar razão à Frente Nacional e a Marine le Pen.

    Quando, em última instância, você afastou todas as objecções, quando os vossos interlocutores não têm mais nada de sério a vos opor, este é o último argumento que utilizam. Frédéric Lordon, em Julho de 2013, respondeu a este argumento [4] . É preciso então insistir nos seguintes pontos:

    1- A Frente Nacional não tem o monopólio da posição anti-Euro. Os opositores existem também no centro-direita (Nicolas Dupont-Aignan, Jacques Myard) e à esquerda (o M’Pep, nomeadamente, mas também fracções inteiras da Frente de Esquerda, a julgar pelo correio que recebo, federações do PG e do PCF). Mas vê-se bem o interesse, para aqueles que querem a todo preço manter o Euro, em fazer crer que Marine le Pen tem o monopólio destas posições. É o equivalente neste debate ao famoso “ponto Godwin”, a reductio ab Hitlerum que caracteriza aqueles que estão esgotados de ideias, argumentos e credibilidade.

    2- É preciso a seguir acrescentar que o facto de Marine le Pen ter adoptado esta posição em nada lhe retira sua pertinência. Uma posição deve ser julgada pelos seus argumentos, sem inferências com outras posições exprimidas por certas pessoas. Isto é uma das condições de existência do debate democrático. Não respeitar estas regras equivale a sair da democracia e a entrar no mundo sinistro dos processos por feitiçaria e da inquisição. Dir-se-á que, tendo em conta o peso da democracia cristã no nascimento do Euro, isto não é nada espantoso… Pode-se não estar de acordo com as posições de alguém e reconhecer que ele ou ela tem razão sobre um ponto particular. Meu colega italiano Alberto Bagnai, na nota “A água molha e o desemprego mata” no seu blog, escreveu coisas muito justas sobre este ponto [5] e estou inteiramente de acordo com ele.

    3- No fundo, pouco importa saber quem retoma nossas posições. Hoje, o Euro é a principal causa de miséria e de morte na Europa. Sua existência impede todas as políticas de relançamento. Sua existência, devido à pressão que ele exerce sobre os espíritos, fez explodir o campo das pessoas que se dizem de esquerda. Eles tergiversam sem cessar sobre esta questão, não é Senhor Mélechon? Sua responsabilidade está aqui totalmente comprometida. Se para vencer for preciso que me alie ao Diabo, cito Churchill quando em 23 de Junho de 1941 deu o seu apoio a Staline. Quando um deputado conservador lhe pergunta como ele, anti-comunista convicto, tinha podido chegar a isso ele responde: “Se Hitler houvesse invadido o inferno, eu me teria arranjado para ter uma palavra gentil para com o Diabo”. Staline não era o Diabo e Marine le Pen certamente não o é. E se ela diz alguma coisa sensata, então eu a saúdo. Contra o “partido único do Euro” todas as forças, escrevo bem TODAS, serão necessárias para que se lhe ponha fim. Diante do perigo que nos ameaça, é a divisão e o sectarismo que constituem nossos maiores inimigos».
    http://resistir.info/europa/sapir_29jan14_parte_2.html

    Interessante também reparar que sempre que o Resistir.info não concordava com algum ponto relevante de um artigo colocava uma nota no início a dar conta disso. Neste caso, nem uma linha. Há silêncios que dizem tudo.

    Quero ver como os nacionalistas de esquerda vão agora descalçar a bota da aliança com os nacionalistas de direita que o Jacques Sapir defende.

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