Por João Valente Aguiar

Na primeira parte deste artigo abordei mais de perto a essência nacionalista do PCP. Evidentemente, nem todos os nacionalismos são iguais. Todavia, o nacionalismo não é uma ideologia política comum. E muito menos anódina. Primeiro porque o nacionalismo articula-se na tensão entre o particularismo de cada país no cenário internacional e um universalismo nacional e orgânico. Isto quer dizer que a unidade de análise política de qualquer pensamento nacionalista opera ao nível da necessidade de diferenciação/oposição entre nações e ao nível da criação estritamente ideológica de uma comunidade nacional por cima das contradições sociais mais profundas. Assim sendo, o pensamento nacionalista é todo aquele que considera qualquer aspecto social e político como uma mera parte componente da nação. Por exemplo, como se procurou demonstrar na primeira parte deste artigo, a classe trabalhadora é, no caso do PCP, a força política e social voluntariosa para regenerar a nação portuguesa num capitalismo de Estado. Desse modo, a classe trabalhadora não existe enquanto uma dinâmica internacional e classista mas enquanto uma parte da nação. Ou se se preferir, a vertente classista é ali completamente secundarizada pela vertente nacional.

Ora, se a nação se torna o centro espacial e temporal da reflexão política, isso significa que o que define politicamente uma organização de esquerda ou de direita se subordina ao imperativo nacional. Por conseguinte, apesar de óbvias diferenças, os slogans da soberania monetária, da soberania nacional, do ressurgimento nacional ou da libertação de Portugal da tutela de A, B ou C transmitem um fundo político partilhado.

E é este fundo nacionalista comum que permite que práticas, pessoas e ideias políticas de uma ponta do espectro político deslizem para o lado oposto. E para não se pensar que tudo isto é meramente teórico lembro apenas um breve exemplo. Quando um partido de extrema-direita como o PNR se queixa da cópia de argumentos políticos de que a CGTP (e o PCP) estaria(m) a realizar, então não adianta dizer que se trataria apenas de oportunismo político (http://www.pnr.pt/2013/06/27/greve-geral-pnr-contra-a-hipocrisia-de-certos-sindicalistas/). De facto, se a extrema-direita reconhece como comuns alguns importantes slogans da soberania económica nacional nos discursos da CGTP e do PCP, isso levanta interrogações que não deveriam deixar ninguém indiferente. Quem garante que ao se pisarem os mesmos slogans soberanistas e nacionalistas não se acabe por ajudar votantes, activistas e simpatizantes da esquerda a resvalar para a direita mais extrema? Dentro deste fundo ideológico central partilhado, quem garante onde começam e onde acabam as fronteiras entre uma pretensa proposta política progressista e um projecto político reaccionário? Onde começa o patriotismo pretensamente benévolo que o PCP diz defender e onde acaba o nacionalismo da extrema-direita? Quem garante que, de tanto ouvirem os discursos da “salvaguarda do interesse nacional” nas iniciativas e nos folhetos da CGTP e do PCP, os trabalhadores que hoje votam à esquerda não poderão votar na extrema-direita? Quem garante que o exemplo massivo de transferência de votos do Partido Comunista Francês para a Frente Nacional não se possa repetir? Em suma, quando da esquerda quase só ficar a parafernália iconoclasta, naturalmente que para os trabalhadores não haverá grande diferença entre os nacionalismos em confronto.

Assim, nesta segunda parte abordarei um outro vector da política nacionalista do PCP e que, no meu entender, pode auxiliar nefastamente à constituição de um nacionalismo de base proletária: as concepções e as práticas políticas do PCP no campo das manifestações de rua não se cingem ao mero protesto reivindicativo. Na realidade, a transformação dos trabalhadores numa massa atomizada e mobilizada em torno de slogans patriótico-nacionalistas corresponde a um perigoso processo que apresenta possibilidades de apropriação pela direita mais extrema como o recente exemplo brasileiro demonstra (ponto 12). É contra esse risco que este artigo procura chamar a atenção.

7.

Noutro ponto do seu texto (http://passapalavra.info/2013/02/73093 ), o José Nuno Matos considera o meu argumento sobre a real força ou fraqueza organizacional do Partido Comunista Português (PCP) a partir da constatação da perda de força dos sindicatos. É evidente que, em termos absolutos, isso é inquestionável e eu próprio assinalei no meu texto que o PCP era hoje mais fraco do ponto de vista organizacional do que em 1975. Portanto, a perda de influência do PCP é real nos locais de trabalho, mas ele continua bastante presente na luta de rua e é importantes, pelo discurso nacionalista (http://issuu.com/cgtp/docs/grevegeral14novembroresolucao?mode=a_p ), na transformação da classe em massas, ou seja, na transformação dos trabalhadores sindicalizados de sujeitos pertencentes à classe trabalhadora em sujeitos pertencentes ao povo português, ao povo da nação portuguesa, ao povo trabalhador harmonizado com os interesses de sectores do patronato de nacionalidade portuguesa. Aqui os trabalhadores ocupam o lugar literalmente funcional dos que trabalham para o bem e o desenvolvimento da nação. Nação entendida aqui além de uma economia nacional, mas também como comunidade orgânica agrupando duas grandes componentes de sujeitos produtivos: as pequenas e médias empresas (e mesmo franjas da grande indústria, sobretudo exportadora) e os trabalhadores, unificados em torno da defesa de um pretenso projecto político comum. A saber, a soberania nacional.

Nesse sentido, o xadrez com que o PCP se cose é claramente propenso a desenvolver-se numa direcção fascizante. Não que o PCP o seja, mas porque o desenvolvimento de dinâmicas estruturais ultrapassa em muito a secundaríssima coloração ideológica. Mas retomando a questão da organização do PCP e seus satélites, quero lançar dois argumentos. Em primeiro lugar, se o PCP tem diversas debilidades organizativas, a verdade é que tudo isso tem de ser contextualizado. Por outras palavras, se a extrema-esquerda que defende princípios de autonomia da classe trabalhadora será constituída, em Portugal, por umas dezenas ou umas centenas de pessoas, não vejo como isso possa ser comparável com os cerca de 60 mil militantes do PCP. Ainda por cima quando grande parte destes militantes não são propriamente educados para o debate político com organizações da esquerda anticapitalista, mas, pelo contrário, votam-nos um ódio profundo. E, acima de tudo, são uma força política compacta e unificada. Pelo contrário, os anticapitalistas mais depressa correm atrás de uma vasta aliança de esquerda com os nacionalistas, do que se preocupam em pensar como romper com o duplo cerco imposto pelos capitalistas e pelos nacionalismos.

No mesmo âmbito, a única e recente experiência de luta remotamente autónoma foi a luta dos estivadores. Aí as colisões entre a direcção sindical ligada ao PCP e os estivadores foram relativamente importantes para apontar novas perspectivas de luta. Contudo, os estivadores nunca conseguiram ter a solidariedade prática de muitos milhares de outros trabalhadores e não são umas centenas de trabalhadores que, isolados e por si só, conseguirão fragilizar uma organização sindical que coloca 200 mil pessoas na rua nas suas maiores manifestações nacionais. Se o PCP e a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) só em número de funcionários partidários e sindicais ultrapassam a extrema-esquerda anticapitalista e antinacionalista… E com as suas ligações ao mundo autárquico (uma parte minoritária mas ainda assim importante do aparelho de Estado), ao exército e à polícia, creio que é ingenuidade ignorar todo esse poder de fogo. Poder de fogo que até é pouco contra o aparelho de Estado dos capitalistas, mas que é mais do que suficiente contra a esquerda anticapitalista portuguesa. E é esse o real papel dos leninistas: amarrar o desenvolvimento das lutas sociais e, desse modo, catapultar a revolta social para sustentar e legitimar novas remodelações das instituições políticas do capitalismo.

Para desgraça da esquerda e dos trabalhadores, os capitalistas já andam a preparar uma união bancária e uma unificação gradual e progressiva das instituições e dos poderes ao nível europeu. E a esquerda, em vez de transnacionalizar as lutas e ultrapassar as fronteiras na organização de classe, pelos vistos prefere andar entretida a difundir ainda mais o nacionalismo nas suas hostes. Se um dia, uma qualquer Frente Nacional fascista açambarcar as regiões de maior votação do Partido Comunista e se, um dia, a esquerda perder a luta nas ruas contra o avanço de uma aliança fascizante entre a polícia e uns quaisquer coxinhas (http://passapalavra.info/2013/06/79985 ), veremos nessa altura a esquerda clamar contra o surgimento de um inimigo que só é inesperado porque foi alimentado precisamente pelos que nessa altura serão agredidos pela criatura que ajudaram a criar à sombra das suas costas. Todas as acções políticas têm consequências profundas que escapam quase sempre aos olhares mais superficiais e litúrgicos. Só o mergulho da esquerda no tanque do nacionalismo a impede de ver o seu próprio papel na nacionalização da classe trabalhadora.

8.

Entretanto, de modo a expandir a discussão, penso que não estarei a ser deselegante se transcrever as palavras que um amigo e notável intelectual me enviou sobre o assunto:

«Não acho, sinceramente, que se corra o risco de o PCP se tornar poder em condições de ditar o que quer que seja. Posso estar muitíssimo enganado, mas o dado de fundo das últimas duas décadas do PCP era a perda de influência em todos os sectores laborais à excepção do funcionalismo público. O problema é mesmo levarem água ao moinho nacionalista, banalizarem certas ideias e, num futuro eventualmente não muito distante, perderem sectores importantes da sua militância para um projecto autoritário mais consequente e com mais hipóteses de triunfar, que evite todos os traços exteriores do fascismo para desenvolver com sucesso os seus aspectos estratégicos: Desvalorização cambial, agravamento da mais-valia absoluta, aumento da repressão e reforço da intervenção económica do Estado e da acção repressiva do Estado».

O que este amigo comentou parece-me constituir um ponto de contacto entre o que eu e o José Nuno escrevemos e que é bastante profícuo para uma crítica consequente e correcta da esquerda nacionalista. Mais do que discutir se o PCP será ou não poder, ou em que condições, é a compreensão do seu potencial de difusão de temas e de propostas que podem ser apropriadas por um projecto mais à direita e que, no final das contas e do processo, podem redundar num novo fascismo. Que naturalmente não teria essa designação e que muito provavelmente afogaria em sangue as fileiras da esquerda nacionalista. Na concorrência entre nacionalismos, o que se situa mais à esquerda dificilmente resiste às investidas do seu competidor mais à direita, resultando quase sempre na necessidade da sua aniquilação ou, na melhor das hipóteses, da sua secundarização.

9.

Todavia, existe um ponto que nenhuma das análises da extrema-esquerda tem desenvolvido a propósito do comportamento do PCP: a transformação das classes em massas. Apesar de este ser um ponto essencial na análise dos fascismos, tal estrutura conceptual não tem sido contemplada ao caso específico português. Se o leitor recordar o trecho do meu amigo que citei quatro parágrafos acima, verá que um dos pontos mencionados é a perda de influência do PCP no mundo do trabalho e que tal facto tiraria poder de fogo a esse partido. Ora, do meu ponto de vista, tal visão terá de ser relativizada. Se o PCP e a CGTP terão hoje uma influência consideravelmente menor no campo sindical, então como explicar a superior capacidade de mobilização destas organizações na rua relativamente ao que sucedia há uma ou duas décadas atrás? Uma resposta, e óbvia, será o agravamento das condições de vida que leva muitos trabalhadores a procuraram as iniciativas promovidas sobretudo pela CGTP. Mas isso não explica tudo e até corrobora o meu argumento do papel do PCP e da CGTP em promotores da transformação de uma classe trabalhadora fundamentalmente fragmentada política e organizacionalmente no quotidiano, e que só ali, nas manifestações, encontra um elo de comunhão colectiva.

Com efeito, não me parece descoincidente o facto de que a perda de força do mundo sindical nos locais de trabalho tem resultado num relativo crescimento das manifestações de rua e de outras iniciativas organizadas pela CGTP. Quem conhece as manifestações da CGTP sabe perfeitamente que, salvo as situações entre conhecidos e amigos, as relações ali estabelecidas entre os trabalhadores não se desenrolam num sentido prático de desenvolver princípios de solidariedade colectiva.

Ou seja, durante a manifestação, a esmagadora maioria das pessoas desfila, protesta e reivindica, mas a sua prática efectiva não resulta necessariamente na tentativa de criação de novas relações sociais. Mais ainda, quando o modelo que a CGTP sempre praticou é o de colocar os manifestantes a desfilar ordeiramente e distantes uns dos outros, para aumentar o impacto visual da iniciativa, agravado pelo facto de ser a central sindical a determinar as palavras de ordem, os discursos e toda a parafernália logística. Quando a manifestação termina à hora mais ou menos marcada, a maioria regressa a casa e os mais jovens vão beber uma cerveja num café ali perto. Portanto, em termos da sociabilidade concreta das manifestações da CGTP, até um convívio entre amigos no final da manifestação é bem mais criador de disposições e de práticas igualitárias. Quando, no actual quadro mais vasto de desorganização da classe trabalhadora (http://passapalavra.info/2013/01/70368 ;http://passapalavra.info/2013/01/70387 ), as organizações do movimento operário não incentivam, por pouco que seja, a agregação prática e efectiva dos trabalhadores nas suas iniciativas e quando, pelo contrário, até incentivam a mera agregação numérica dos trabalhadores atomizados, então pode dizer-se que essas organizações estão a contribuir para a reprodução da desorganização colectiva da classe trabalhadora. E não é preciso ser-se um sobredotado para se perceber que a atomização da classe trabalhadora e a sua agregação numa massa não se reflecte apenas no plano das classes exploradas.

É da transformação da classe trabalhadora numa massa que aumentam as hipóteses de se recomporem novas hierarquias sobre o movimento operário. Novas hierarquias sobre, mas também provenientes do próprio movimento operário.

10.

Em paralelo a estas manifestações de rua que, no geral, têm registado um claro aumento de participantes, existem outros pequenos dados de maior aceitação pública. Nesse sentido, várias sondagens têm dado votações possíveis de 12%, um eventual resultado nacional que o PCP não tem desde as eleições legislativas de 1987… «Já a CDU e o Bloco de Esquerda conseguem, em conjunto, 21%, com o primeiro a registar 12,5% das intenções e o BE com 8,5%» (http://www.jornaldenegocios.pt/economia/politica/Detalhe/psd_cds_e_ps_perdem_nas_intencoes_de_voto_enquanto_cdu_e_be_conseguem_mais_de_20.html). Num gráfico publicado no jornal i (http://www.ionline.pt/sites/default/files/legislativas_maio13_0.pdf ) é visível a evolução francamente positiva do PCP entre as eleições legislativas de 2011 (onde averbou 7,9% dos votos), as subsequentes sondagens nesse ano e o período decorrente até Abril deste ano. De acordo com estes dados, o PCP atingiria mesmo os 12,8% das intenções de voto, o que representa um aumento de 62%! Se se reparar que todas as sondagens em Abril e Maio de 2011 deram entre 6,5 e 8,1%, sendo que os resultados eleitorais foram de 7,9% (pouco mais de 440 mil votos), então pode considerar-se que os valores expressos pelas sondagens têm um grau de acerto muito grande relativamente à votação real no PCP.

Nesse sentido, o aumento do PCP nas sondagens tem sido relativamente constante, precisamente o inverso do registado pelo Bloco de Esquerda (BE), que no último ano terá aumentado dos 8% para os 8,7%. Ou seja, um aumento de cerca de 9% ao longo do último ano de sondagens. Mais interessante, ou mais dramático dependendo do ponto de vista, é o facto de que as grandes manifestações de 15 de Setembro de 2012 e de 2 de Março de 2013 foram convocadas pela plataforma Que Se Lixe A Troika (QSLT). Ora, se for verdade a tese de que seria o BE a controlar a direcção e a calendarização das iniciativas dessa plataforma, então torna-se enigmático o facto de ser o PCP quem aparenta ter melhores condições para crescer do ponto de vista eleitoral. Independentemente de quem controla o QSLT, o facto é que, na aparência, o tipo de manifestações desencadeadas a partir de Setembro do ano passado até seria mais favorável para o BE do que para o PCP. Ora, o que se verifica em termos de sondagens é que, perante este cenário de surgimento de manifestações inorgânicas e espontâneas, quem mais tem crescido nas sondagens é o PCP. Não existem dados empíricos irrefutáveis que comprovem que o PCP esteja a captar simpatia em parte dos manifestantes dessas iniciativas; mas um partido contestatário e fora do arco governativo, como é o PCP, terá de ir buscar potenciais eleitorais a espaços de contestação. Por conseguinte, é verosímil que o PCP esteja a captar muitos votos de protesto em parte importante dos participantes das manifestações espontâneas.

Se assim estiver a acontecer, então talvez valha a pena confrontar esta possível conquista de simpatia eleitoral no seio de manifestações espontâneas com o modelo que o PCP e a CGTP contemplam para as suas manifestações. Assim, se as mais bem-sucedidas manifestações da CGTP cresceram relativamente ao que acontecia uma década antes num molde de transformar a luta da classe trabalhadora numa expressão de uma massa atomizada, então isso significa que o alargamento político do PCP e das suas organizações ocorre a partir desse enquadramento social e sindical de trabalhadores descontentes e revoltados com a austeridade numa massa. Por conseguinte, se este processo de transformação da classe trabalhadora numa massa for um processo fundamental para alavancar o alargamento eleitoral e político do PCP, então podemos deduzir que um processo idêntico estará em marcha entre os participantes das manifestações convocadas pelo QSLT? Ainda é cedo para se tirarem conclusões, mas os dados existentes apontam para algo aproximado com esse processo.

Ou seja, não só o PCP recruta simpatia e votos a partir do enquadramento de trabalhadores revoltados com o governo e com a troika numa massa, mas isso também significa que as próprias manifestações ditas espontâneas poderão estar a sofrer o tradicional e triste processo de hetero-organização, como a última manifestação de dia 1 de Junho embaraçosamente demonstrou.

Isto é, à possível perda de dinamismo na base do movimento e à inconsistência política de grande parte dos participantes nessas manifestações, soma-se a condução progressiva dos contestatários para a solução política imediata que, apesar das diferenças a não descartar, tanto o PCP como o BE defendem: a formação de um governo de esquerda. De uma inicial grande massa humana na rua, a desorganização dos sectores mais revoltados com a austeridade transforma-se num corrupio até às urnas de voto. E da confiança eleitoral no PCP à aceitação das teses nacionalistas da saída do euro é um passo. Temos assim uma política que se aproveita do desespero para transformar os trabalhadores numa massa informe e componente da comunidade nacional (http://passapalavra.info/2013/05/77590 ).

Se no plano mais macro existem indicadores passíveis de serem interpretados como de um relativo mas importante crescimento político e social do PCP, no plano mais prosaico dos intelectuais de esquerda o cenário também tem sido de muito maior aceitação (http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2013/03/o-contributo-do-pcp-para-o-debate-sobre.html ; http://www.pcp.pt/o-euro-e-d%C3%ADvida-%E2%80%93-d%C3%A9fices-estruturais ; http://www.ionline.pt/dinheiro/sair-euro-estes-economistas-nao-encontram-outra-alternativa ) ou de tolerância relativamente ao legado nacionalista do PCP. Se até a direcção de um movimento social como o que convocou as manifestações de 15 de Setembro de 2012 e a de 2 de Março passado convive pacificamente com a participação dos nacionalistas de esquerda, e se esse mesmo movimento procura conjugar as manifestações espontâneas com as manifestações e a agenda da CGTP, parece-me indiscutível a simpatia e a aceitação que as forças controladas pelo PCP têm recebido por sectores que, à primeira vista, até teriam razoáveis distanciamentos políticos.

11.

Com efeito, nestas questões há que ser pragmático. Quando a central sindical afecta ao PCP aumenta o número de manifestantes e mantém o mesmo esquema de massas, quando as sondagens ao longo de alguns meses dão conta de um possível reforço eleitoral do PCP e quando as propostas nacionalistas se tornam aceitáveis e partilhadas por intelectuais com influência social e mediática, então o potencial de o PCP abrir caminho a uma possível fascização não pode ser tratado levianamente.

Retornando ao diálogo com o José Nuno Matos, recordo o que alguém escreveu há exactamente dez anos atrás: «não se pode fazer a crítica ao fascismo em geral se não o reconhecermos como um nacionalismo de base proletária» (Bernardo 2003: 217).

O PCP não é um partido fascista, mas as suas propostas políticas e a forma como tem procurado enquadrar sectores significativos dos trabalhadores revoltados têm contribuído para a criação de condições de um nacionalismo de base proletária. É irrelevante proceder a exercícios de futurologia política acerca de quem mais se aproveitará deste processo. O aspecto mais relevante na análise do PCP e da maioria da esquerda portuguesa prende-se com o facto de que é daqui que o nacionalismo tem sido difundido. E é contra a nacionalização da classe trabalhadora que devemos lutar.

Ninguém sabe se, por quem ou quando essa classe trabalhadora nacionalizada (ou aportuguesada) pela esquerda será apropriada e mobilizada massivamente. Mas o que ninguém deve desprezar é o potencial de perigosidade que este processo comporta para o futuro. Uma classe trabalhadora que se considere parte da nação e que se considere parte da solução para a regeneração de um país, já não é uma classe social no sentido político. É uma massa humana disposta a ser conduzida por líderes e intérpretes fiéis do pulsar de uma pátria em busca da sua salvação. Escuso de mencionar onde essa massa poderá desaguar. Que em Portugal seja a esquerda a sua principal impulsionadora, isso só serve para acrescentar ironia à tragédia.

12.

A este propósito, e para terminar o artigo, parece-me que o recente caso brasileiro é perfeitamente justificativo dos perigos imensos do nacionalismo. Pelo que vou lendo e discutindo com várias pessoas, no que respeita ao nacionalismo, a esquerda brasileira não parece ser na sua esmagadora maioria muito diferente do que se verifica em Portugal. De facto, não é de desprezar que tenha sido o nacionalismo que permitiu transformar a inicial e justíssima luta para a redução da tarifa dos transportes públicos numa nação em cólera (http://passapalavra.info/2013/06/79985http://passapalavra.info/2013/06/79726). Ou seja, a esquerda brasileira, especialmente a que se encontra no seio das tradições leninista e social-democrata, incorporou desde sempre uma forte componente nacionalista. O nacional-desenvolvimentismo será talvez a face mais visível e mais relevante deste aspecto nacionalista. Mas os temas da luta contra a corrupção surgem sempre aos olhos dos trabalhadores desorganizados e despolitizados como a junção de duas reivindicações: 1) uma pretensa necessidade de regenerar as elites e colocar governantes impolutos e que defendam um ilusório bem nacional; 2) higienizar a nação dos indivíduos que usurpam a sua grandeza ancestral.

Esta plataforma ideológica tem sido alimentada por franjas maioritárias da esquerda dos dois lados do Atlântico. No caso brasileiro, o nacionalismo partilhado à direita e à esquerda contribui para fornecer material humano à disposição de um projecto autoritário e fascizante. E como esse caso demonstra, se a esquerda tem tido um papel tristemente relevante na difusão de um ideário nacionalista, a verdade é que a esquerda nunca controla a explosão de ondas nacionalistas. Quando estas rebentam é sempre a extrema-direita que penetra no seu seio e que arrasta as massas (literalmente no sentido que apontei no ponto 9) para o seu campo.

Bem que pode certa esquerda afirmar a falsa oposição entre o patriotismo e o nacionalismo. Aliás, essa sua insistência nesta falsa dicotomia é a última fronteira da sua fraquíssima paleta de argumentos. Só essa dicotomia fictícia permite à esquerda marchar cega no processo de crescente nacionalização da classe trabalhadora. É sempre a partir das temáticas nacionais apropriadas por um proletariado fragmentado numa massa inerte e atomizada que surge o fascismo. O fascismo surge sempre a partir de um complexo processo encadeado de primordial desorganização da classe trabalhadora e subsequente reorganização estritamente ideológica numa base nacionalista. Só existe um terreno susceptível de romper com as ambiguidades políticas e ideológicas do capitalismo: o da luta contra a exploração capitalista. O mesmo é dizer: o da luta contra todas as formas concretas – políticas e económicas, estatais e empresariais – que impedem os trabalhadores de ter qualquer controlo dos mecanismos de produção das decisões em todas as esferas da sociedade. Enquanto a esquerda não se quiser confrontar com estas questões candentes, essa esquerda só servirá para alimentar a formação de potenciais vias fascistas e para defender formas capitalistas ainda mais atrasadas e opressoras.

Como muito bem enuncia um recente texto do colectivo do Passa Palavra, «não basta criticar os inimigos externos dos trabalhadores. Também devemos criticar os seus inimigos internos. Aliás, olhando para as crises institucionais do passado, têm sido estes quem mais frequentemente salvou o capitalismo… Essa é a maior tragédia da esquerda e da classe trabalhadora» (http://passapalavra.info/2013/06/79899).

A crítica do capitalismo ou é uma crítica global a todas as formas de capitalismo – nacional e europeu, financeiro e desenvolvimentista, privado e estatal – ou não é coisa nenhuma.

25 COMENTÁRIOS

  1. Isto aqui é tudo gente séria: a CGTP não produziu nenhum cartaz ou elemento gráfico com o Padrão dos Descobrimentos como este post faz supor a dado passo.

  2. André Sarmento,
    O cartaz a que se refere circulou na internet, nomeadamente no artigo «Crise política, alguns pontos nos iis», publicado a 5 de Julho no blog 5 dias, como pode verificar aqui:
    http://blog.5dias.net/

  3. No local em que foi publicado (http://5dias.wordpress.com/2013/07/05/crise-politica-alguns-pontos-nos-iis/) ninguém da CGTP teve a ombridade de criticar o referido cartaz. Aliás, o mesmo cartaz está assinado com o logo da CGTP e circulou pela internet. Se não é da CGTP porque a central sindical não fez nada para que não o identificassem com a organização?
    Há silêncios que dizem mais do que se pensa. Por outro lado, são igualmente graves os slogans do tipo “pelo futuro de Portugal”, “salvar Portugal”, “cresce o clamor nacional”, esparramar uma bandeira nacional em toda a primeira página do Avante, etc. Depois choram quando os filhos dos operários votam na extrema-direita… Que é que se há-de fazer a essa gente séria que nunca quer aprender? A bem da verdade, não devemos ser assim tão ingénuos, pois como poderia esta gente aprender se a esquerda nacionalista não passa de um reservatório para a criação de eventuais burocratas e de gestores?

    Para terminar. Eu sei que os meninos e meninas do PC e da CGTP só estão habituados a meros textinhos pequeninos, superficiais, moralistas e hagiográficos – os tais posts de blogues. Ora, o texto acima, independentemente das suas qualidades, atributos e eventuais defeitos, é um artigo. E não um post. Ai ai, a esquerda que se diverte a criticar a superficialidade do pensamento da direita neoliberal é a mesma que comete as mesmas asneiras. Como é mais fácil ver apenas umas imagens e três ou quatro frases espampanantes em vez de puxar pela cabeça.

  4. Mas, meus senhores, o facto de ter sido publicado no 5 dias prova alguma coisa num tempo em que toda a gente desata a produzir os seus própios materiais de agit.prop sobre inciativas que têm promotores identificado ?

    E recorrer ao logotipo da CGTP também prova alguma coisa quando é só uma questão de copy e paste ?

    E os meninos são tontinhos ao ponto de julgarem que a CGTP tem tempo para estar a monitorar tudo o que sai na NET ?

    Custa assim tanto perceber que quem quiser identificar reais materiais da CGTP deve ir fazer copy ao seu sítio e deixar-se destes truques ?

  5. A propósito deste último comentário de André Sarmento, mal vai a CGTP se já nem com o 5 dias pode contar…

  6. Vale tudo, para espantar a vespa (pseudônimo da crítica): se o cachorro não abana o rabo, o rabo abana o cachorro…

  7. O PCP diz no seu programa:

    “A internacionalização da economia, a profunda divisão internacional do trabalho, a interdependência e cooperação entre Estados e os processos de integração correspondem a realidades e tendências de evolução não exclusivas do capitalismo. Em função da sua orientação, características e objectivos, tais processos podem servir os monopólios e as transnacionais, ou podem servir os povos. É direito inalienável de cada povo e de cada país lutar em defesa dos seus interesses e direitos.

    Nada pode obrigar Portugal a renunciar ao direito de optar pelas suas próprias estruturas socioeconómicas e pelo seu próprio regime político. Nada pode obrigar Portugal a aceitar a posição de Estado subalterno no quadro da UE e a alienar a sua independência e soberania nacionais. O povo português tem, e deverá sempre ter, o pleno direito de decidir do seu próprio destino e de escolher os caminhos que entender mais conformes com a sua identidade histórica e com os seus interesses e aspirações.”

    http://www.pcp.pt/programa-do-pcp

    Onde é que está o fascismo? Onde é que está o escândalo? O que seria interessante era o “colectivo” Passa Palavra dizer o que desta posição não está de acordo que é para sabermos bem o que o “colectivo” Passa Palavra propõe.

    Seria interessante citar o que o PCP diz quando se fala sobre o que diz e pensa o PCP. Nada disto nunca é feito. Nunca vi alguém caracterizar um partido, as posições que esse partido tem sobre os mais diversos aspectos, sem nada citar do programa desse partido. Em qualquer universidade que não fosse à Relvas isto daria direito a chumbo. Aqui no Passa Palavra dá direito a aplausos.

  8. O comentador João esquece-se que na primeira parte deste artigo o líder eterno do PCP, Álvaro Cunhal, foi abundantemente citado. Por outro lado, tanto em textos da minha autoria como em textos do Passa Palavra foram citados abundantemente as posições do PCP. Não adianta querer atirar areia para os olhos.

    Por outro lado, o comentador João chega ao ponto de citar um trecho que ainda mais confirma todo o argumento de que o PCP é nacionalista. Isto é, a colocação dos problemas socioeconómicos como meros derivados de uma realidade geoestratégica e ideológica: a nação. Aliás, basta ver como os fascistas do PNR ficaram ofendidos por ver o PCP e a CGTP roubarem os seus slogans nacionalistas. Creio que não há melhor e mais límpida conclusão do nacionalismo do PCP.

    Para terminar, o comentador João é tão reconhecido que não passa dum cobardolas a escrever sob a capa do anonimato. Merece por isso crédito absolutamente zero nas provocações baratas e irracionais que faz. Aliás, não é por acaso que o comentador João já nem sequer faz comentários apenas cingidas a questões substantivas. Pelo contrário, mistura-as propositadamente com insultos e insinuações pessoais com o objectivo de assim desqualificar o opositor. Certamente que pessoas com estas atitudes nada trazem ao debate de diferentes posicionamentos políticos.

  9. Segundo Brecht, ‘Tuis’ são Telect-Uais-In, In-Telect-Uais formadores de opiniões favoráveis ao poder vigente – qualquer que seja, atual ou futurível.
    Uma subespécie de tui é o munis-cota, que se diz comunista e cumpre a mesma função – voz do dono, mutatis mutandis…
    Aquele que pergunta “Onde é que está o fascismo?” é o mesmo que ameaça: “Em qualquer universidade que não fosse à Relvas isto daria direito a chumbo.” Eis o fascismo!

  10. O que é que tem o anonimato a ver. Pessoalmente não dou os meus dados particulares na net assim por qualquer coisa, portanto a sua tirada pouco importa para o caso. De resto continua a valer a sua falta de relação com o programa do PCP nas ctíticas que faz. Mas há mais, o que a sua crítica indica é que a economia não tem nada a ver com a vontade e auto-determinação dos povos, ou seja, como um bom capitalista, você pensa que as leis económicas são leis divinas ou leis da natureza, ou melhor, deverá querer fazer pensar isso.

    Acontece porém que a economia, a organização económica de uma sociedade passa pela vontade do povo, o que não quer dizer que os resultados da vontade expressa do povo sejam sempre adequados ao que a vontade determinou para a sua acção, ou seja, o papel da vontade popular expressa de que forma for encontrada pelo próprio povo não implica que as suas determinações não tenham resultados imprevistos.

    Mas isto não inibe a vontade popular de participar na organização económica inclusive para corrigir os seus próprios erros assim como, certamente, para gerar outros erros – nunca nada vai ser perfeito.

    O que você, estupidamente, desculpe dizê-lo assim mas não encontro um termo mais adequado, considera nacionalismo no PCP é, na verdade, para o PCP, a defesa de que a vontade do povo português tenha uma polis, digamos assim, para ir até aos clássicos, onde possa desenvolver-se. A política, a liberdade política, ou tem uma terra, matéria, cidade, ou é apenas uma ideia vaga, uma abstracção a pairar nas núvens.

    Depois há ainda vários países europeus com boas economias que nem pertencem ao euro nem são países fascistas, embora sejam países capitalistas. Os países, da europa ocidental, onde a extrema-direita tem conquistado terreno significativo são quase todos da UE:

    “Segundo avança o jornal britânico “The Guardian”, a investigação foi feita pela British thinktank Demos, que pela primeira vez analizou comportamentos de apoiantes online de movimentos de extrema-direita, e revelou uma crescente adesão dos jovens europeus a movimentos nacionalistas. Segundo o estudo, os jovens revelam-se cada vez mais criticos para com os seus governantes e União Europeia, estando profundamente preocupados com o futuro e identidade cultural, bem como com o crescimento da imigração e o alastrar da influência islâmica na Europa.”

    (…)

    “Os partidos que difundem ideias xenófobas, anti-imigração e anti-islamitas, estão a espalhar-se para fora dos seus terrenos tradicionais em França, Itália ou Austria e a conquistar países tradicionalmente mais liberais como a Holanda ou a Escandinávia, tendo agora significativas representações parlamentares nesses países.”

    http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=2105764

    Então, contra a sua tese, o que vai aparecendo é o crescimento da extrema-direita à medida que a UE aprofunda a sua integração. Por isso, de minha parte, recomendo muito cuidado e principalmente que não se seja tão descuidado a ponto de pensar que algum dia os povos vão deixar de ter uma relação mais próxima com o seu país em relação aos demais. É isto que é definitivamente infantil na sua posição: pensar que o apego que os povos têm pelo seu país é uma coisa antiquada e a deixar cair o mais rápido possível.

    Tenho também quase a certeza de que das vossas ideias não surgirá nunca um Partido com alguma representatividade. Sabe porquê? Porque ninguém se revê num Partido que acha que o país é uma ficção. Por isso também a sua crítica aos partidos passa pela incapacidade das vossas ideias servirem de fundamento a um partido minimamente representativo. Por isso resta-vos a crítica em asbtracto e as ideias gerais. O único modo que você tem encontrado de dar algum sangue à suas ideias é pela crítica ao PCP, sem isso, rapidamente você se esvazia. E mais, os leitores podem reparar como você diz sempre a mesma coisa. Todos os seus posts dizem a mesma coisa já há muito tempo. Você já não tem capacidade para expandir conteúdo, coisa que nem os seus posts, por serem longos, consegue disfarçar.

  11. “Aquele que pergunta “Onde é que está o fascismo?” é o mesmo que ameaça: “Em qualquer universidade que não fosse à Relvas isto daria direito a chumbo.” Eis o fascismo!”

    É de esperar que isto para você seja igual ao fascismo. Você não é histérico nem nada. Talvez para você seja natural discorrer sobre as posições de um partido sem recorrer ao seu programa – é como discorrer sobre, por exemplo, Platão sem recorrer ao que ele escreveu. Para mim, isto não é natural, principalmente quando é feito sistematicamente. O autor disse que citou Álvaro Cunhal aqui e ali. Eu leio o autor, sei o pouco ou nada que labora sobre o que são as posições programáticas actuais do PCP.

    Depois é fácil dizer que toda a defesa da soberania nacional leva ao fascismo. Qualquer um pode dizer isto. A partir daqui deixa-se de diferenciar, deixa-se efectivamente de pensar e passa-se apenas a afirmar isto repetidamente de tal modo que quem falar de soberania nacional passa a ser proto-fascista. Portanto enquanto vocês acusam outros vocês mesmos usam tácticas totalitárias nos vossos discursos.

    O que acontece é que até hoje não se encontrou em Portugal nenhum sinal que maioritariamente expresse a vontade de abdicar do seu país, de abdicar da substancialidade do seu país.

    Vocês são os únicos portugueses que eu conheço que dizem que a soberania nacional é uma ideia a abandonar porque leva ao fascismo. Certamente que entre o PCP e a direita há ideias diferentes sobre os caminhos que Portugal deve seguir mas nenhum partido afirma expressamente que não quer saber da soberania nacional. Deve ser vocês que são uns ilumunados. Isto explicará também porque é que não precisam de ler e estudar aquilo sobre o que falam.

  12. “Aliás, não é por acaso que o comentador João já nem sequer faz comentários apenas cingidas a questões substantivas. Pelo contrário, mistura-as propositadamente com insultos e insinuações pessoais com o objectivo de assim desqualificar o opositor. Certamente que pessoas com estas atitudes nada trazem ao debate de diferentes posicionamentos políticos.”

    Você sabe que já me censurou, aqui e no Vias de Facto, comentários que endereçam as suas ideias com outras ideias. Você tem censurado tudo. Para os seus adeptos talvez isto resulte, para mim, eu sei bem o que escrevi e o que você censurou. Portanto, aqui entre nós, você não me engana.

    De resto se você quiser conversar em particular eu não me importo nada, agora o que eu não vou fazer é deixar os meus dados pessoais na net.

    Eu não sei quem você é, não ando à procura de saber, não sei como se parece, o que faz, o que não faz, nem me interessa saber, como também não sei quem é, por exemplo, o Ulisses aqui ou qualquer outro comentador do Passa Palavra ou do Vias de Facto, nem sequer me dá para solicitar a identificação pessoal de alguém que me critique nestes debates. Não quero saber disso. Não acho importante.

  13. O que diz o poder vigente, polítco e económico-financeiro:

    aprofundamento da UE? sim
    caminho para o federalismo? sim
    anti-comunismo? sim

    o que diz o Passa Palavra:
    aprofundamento da UE? sim
    defesa do federalismo? sim
    anti-comunismo? sim

    O que diz o ulisses?

    “Segundo Brecht, ‘Tuis’ são Telect-Uais-In, In-Telect-Uais formadores de opiniões favoráveis ao poder vigente – qualquer que seja, atual ou futurível.”

    Onde é que o Passa Palavra se opõe ao poder vigente e aos seus projectos de futuro para o país e a UE?
    – em nada.

    ergo…

  14. Para terminar esta conversa e para arrumar de vez as calúnias desse anónimo cobardolas que pensa que pode deturpar as posições dos outros conforme lhe interessa.

    1) Se não estou em erro, o Passa Palavra analisou aspectos do programa do PCP no ano passado pelo menos em dois artigos. Só posso falar por mim, mas era só o que faltava ter de fazer a papinha toda e repetir tudo de cada vez só para que os ignorantes e os preguiçosos não tenham o trabalho de ler, de estudar e de reflectir.

    Neste aspecto, importa apenas referir que as posições do PCP têm sido sempre comentadas na base de declarações de dirigentes, de intervenções públicas e de documentos públicos. E, acima de tudo, de práticas, conforme a análise que fiz nesta segunda parte sobre o processo que o PCP e a CGTP protagonizam na transformação da classe trabalhadora numa massa. Era só o que faltava que me viesse um estalinista dizer o que eu posso ou não posso interpretar das práticas políticas de um partido. Como se as sondagens, a forma de organização das manifestações da CGTP, ou os dados públicos do número de militantes do PCP ou de manifestantes em eventos da CGTP não fossem material empírico perfeitamente válido.

    Para terminar este ponto sobre o material do PCP. Não é indiferente que o senhor anónimo ignore olimpicamente os escritos do seu mestre Álvaro Cunhal (ainda por cima o informe para um congresso partidário e que foi aprovado então no órgão máximo desse partido) para uma aliança nacional(ista) com sectores de legionários fascistas ou as declarações do partido de extrema-direita PNR zangado com o roubo de slogans nacionalistas pela parte do PC.

    2) Mas como o comentador anónimo João é um preguiçoso mental e como só sabe deturpar o que eu e outros escrevemos lembro só a posição do Marx sobre a preferência do comércio livre sobre o proteccionismo (nacionalista):

    «Em geral, porém, nos nossos dias o sistema proteccionista é conservador, ao passo que o sistema do livre-comércio é destruidor. Dissolve as antigas nacionalidades e conduz ao extremo antagonismo entre a burguesia e o proletariado. Em resumo, o sistema da liberdade comercial apressa a revolução social. É exclusivamente neste sentido revolucionário, meus Senhores, que voto a favor do comércio livre».

    Por conseguinte, ninguém aqui defende a UE. Nem sequer defendemos o federalismo como objectivo político mas como veículo/instrumento preferível para as lutas sociais. Sempre é melhor um capitalismo transnacional do que a miséria de um capitalismo português isolacionista a imitar o “sucesso” das cadernetas de ração cubanas. Aliás, quem defende uma modalidade arcaica, ditatorial, assassina e improdutiva como as ditas experiências socialistas demonstraram inegavelmente são os “revolucionários” da estirpe do cobardolas anónimo.

    Eu sei que esse senhor nem assim vai aprender nada, mas é sempre bom lembrar aspectos internacionalistas do pensamento (certamente contraditório) do Marx que os próprios marxistas hoje querem esquecer à força toda. Não por acaso o marxismo político/organizativo de hoje é acima de tudo um reservatório para a formação de gestores e de candidatos a gestores. Mas ainda se acham anticapitalistas os pobres…

    Fim de conversa

  15. Já agora seria interessante pensar o que faria a federação, o poder federativo, se ao mesmo tempo os trabalhadores portugueses e os trabalhadores alemães viessem para a rua defender posições antagónicas. É que para você entre os trabalhadores só há união. Pois bem. Você está errado e qualquer um lhe dirá o mesmo. Não há nenhuma garantia de que entre os trabalhadores da federação só haverá unidade.

    Já agora, mudando de ideias em relação a uma posição anterior, deixei o meu email aí que portanto você poderá utilizar se quiser para contactar-me em privado. Apenas não está autorizado a divulgá-lo a terceiros e publicamente.

  16. O comentador João está, como bem assinalou João Valente Aguiar, tentando se desviar do principal debate em questão e dos argumentos aqui colocados em cena para serem levados em conta quando se trata de discutir sobre os perigos e armadilhas do nacionalismo de esquerda.

    Além do mais, conforme também assinalou João Valente, é errônea a afirmação do comentador João de que os documentos do PCP não estão sob o escrutínio daqueles que visam criticar com fatos e análises os posicionamentos dessa organização em relação ao EURO e a União Europeia.

    Talvez não fosse necessário gastar tanta tinta ou, mais propriamente nesse caso, dedos no teclado para tentar esclarecer quem só quer soprar fumaça de confusão e acusações. Mesmo assim, relembro apenas e tão somente três recentes artigos publicados aqui neste site – e que, dentre outros elementos, citam e tomam como parte para a análise alguns documentos da lavra do PCP:

    Behemoth mata Leviatã e morre (1ª parte) – http://passapalavra.info/2012/11/67107

    Behemoth mata Leviatã e morre (2ª parte) – http://passapalavra.info/2012/11/67391

    Sinal vermelho ou farol? 2) o farol – http://passapalavra.info/2012/12/67887

    Dentre outros textos que poderiam ser citados e, principalmente, devidamente lidos, criticados e debatidos. No mais, só nos resta fazer o que vem sendo muito bem empreendido pelo João Valente e muitos outros neste e noutros sites (e em coletivos de base de bairros e organizações autogeridas) – qual seja, dar consequência as palavras de Júlio Cortázar, aqui publicadas no último Citando… “Nada está perdido, se tivermos a coragem de proclamar que tudo está perdido e que devemos começar de novo.”.

  17. Ratma,

    Veja que são três textos iguais. Todos dizem a mesma coisa. Que o PCP é um partido nacionalista. Eu afirmei que já não há expansão de conteúdo e não há. O que você lê do ano passado é o que lê este ano. O mesmo texto é reciclado vezes sem conta.

    A tese, a única tese que interessa ao Passa Palavra, quanto à metéria em pauta, aquela que repete em todos os textos e que é todos esses textos é a de que o PCP é um partido nacionalista que defende o isolamento internacional do país.

    Por isso eu digo que o tratamento do programa do PCP nos textos que menciona é superficial na medida em que, por exemplo, se deduz de uma proposta de organização económica que, como se vê, é praticamente decalcada da Constituição Portuguesa (Economia mista, etc, toda essa parte), um projecto nacionalista. Ora qualquer projecto nacionalista passa e sempre passou por uma clara afirmação de raça nacional, do português verdadeiro contra o emigrante que lhe vem tirar o trabalho etc e tal. Todos nós conhecemos a conversa.

    Então eu acho incrível que se insista que o PCP é nacionalista sem mostrar no Programa do PCP onde é que ele se coloca nessa posição. Sabe porqúe é que não mostra? Porque não existe. Porque no Programa do PCP não consta nem nunca constou a discriminação racial, nem conversa de povo superior e inferior.

    O que existe no programa do PCP é o interesse pelo desenvolvimento do país e um dos instrumentos que são fundamentais para o PCP é a preservação de mecanismos de decisão no interior do país à disposiçao do povo português – é isto que é soberania nacional, é preservar instrumentos efectivos de capacidade de auto-determinação. Isto o mais possível é claro, o PCP também sabe que os países vivem de relações com outros países.

    Qualquer trabalho intelectualmente são sobre as posições do PCP acerca de relações internacionais citaria o que o PCP defende, iria ao Programa e traria para a discussão quais as posições do PCP. Nada disso é feito. Portanto, só me cabe insistir que o nacionalismo que vocês atribuem ao PCP é inventado. É que assim seria preciso também dizer o mesmo da Constituição portuguesa, seria preciso afirmar que temos uma Constituição nacionalista. Seria também preciso dizer o mesmo de todos os demais partidos que também falam e defendem a soberania nacional. E o mesmo do povo que em geral também defende que Portugal seja soberano.

    Eu acompanhei as manifestações no Brasil, acompanhei pela televisão e o que vi insistentemente foi aquela gente toda a mostrar o seu amor pelo seu país e pela ideia de um país mais justo e mais próspero.

    Vi que constantemente cantavam o hino nacional e exibiam a bandeira – e não é daqueles grupinhos de extrema-direita que apareceram que eu falo, mas do brasileiro médio, digamos assim, que saiu à rua ou que não tendo saído apoiou. Diga-me lá, aquelas manifestações são, para você, manifestações nacionalistas?

    Mas há um outro factor, fundamental. Nada nos garante que nós tomando a iniciativa de deixar caír a ideia de soberania nacional que os outros nos acompanharão. O perigo é, portanto, que abdiquemos da soberania nacional simplesmente em favor de outros países que não abdiquem dela – e falo de países da UE. É impensável que a Alemanha, a França, a Inglaterra, a Espanha, a Itália, a Irlanda (que lutou ainda no sec.XX por ela contra a Inglaterra) abandonem a ideia de soberania nacional – lembro-os do referendo do ratado de Lisboa que foi rejeitado na Irlanda e que, basicamente, a UE não aceitou e forçou à repetição do referendo. Uma vergonha e um ensaio do que poderá ser a UE federada.

    Então o federalismo que avançar vai ser nesta base, que é a de sempre: a de disputa por vantagens e poderes comparativos, agora num outro contexto, o de uma federação.

    A Alemanha e a França não vão aceitar o federalismo enquanto ele não implicar que ficam com mais poder do que o que têm agora. É assim. Não se tenha dúvidas. Então, de nossa parte, não há que ir a correr oferecer a nossa soberania nacional, que é, enfim, mais uma versão do bom aluno, agora em relação ao federalismo. É preciso dizer a este pessoal que quer Portugal como o bom aluno, seja da troika, seja, como aqui, do federalismo, que não há professor.

    Você fala das armadilhas do nacionalismo de esquerda, seja lá o que isso for, mas não vê as armadilhas do vosso internacionalismo. A armadilha já a referi: é que você vá oferecer a soberania portuguesa de bandeja a outros que poderão muito bem recebê-la sem no entanto oferecer a sua em troca.

    Vocês defendem um internacionalismo sem nações. Ora sem nações, sem países, não há internacionalismo. É o próprio conceito de internacionalismo que é impossível sem incluir o conceito de nação ou de país.

    A verdade é que cada governo de cada país está preocupado primeiro com o seu país e só depois com os países aliados. Assim é também na UE. Não podemos esperar que os outros estejam tão preocupados connosco do que com eles mesmos e portanto não podemos ficar sem instrumentos de executar a vontade expressa dos portugueses, de maiorias e de minorias também.

    Por fim, para quem quiser ler o que de facto o PCP pensa pode ler:

    http://www.pcp.pt/programa-do-pcp#4_2

    No capítulo II, ponto 5, é tratada a questão das relações internacionais e das posições de princípio que o PCP defende que Portugal tenha.

    E ainda, é fácil para um país como Portugal abandonar a sua soberania nas mãos de outros, é fácil porque é um país enfraquecido e pouco próspero no contexto europeu e portanto náo é difícil seguir o canto da seria de que a UE resolverá tudo isso e que quanto mais UE e menos Portugal melhor.

    É mais difícil preservá-la sem se isolar dos outros. O que o PCP defende não é nenhum isolacionismo como é por aqui dito. Defende sim este caminho mais difícil de preservar soberania sem abdicar de relacionar-se com o mundo.

    E estranho ainda que em vez de atacar a ideia de soberania, o Passa Palavra e o sr. JVA, não laborem sobre os mecanismos de preservação da soberania dentro do federalismo. Porque não me parece que o povo português abandone de bom grado a ideia de perder a sua soberania e concerteza que desejará, caso se constitua uma federação, que Portugal continue um país soberano. É que se o federalismo implica o abandono da soberania então isto quer dizer que ela se vai deslocar para outro ponto, para as instituições federais.

    Cada país tentará o mais possível colonizar as instituições. E porquê? Porque sabem que uma coisa é a retórica federalista e outra coisa é a realidade, o seu povo, no seu país, a que tem de responder e por quem é obrigado a não abdicar de soberania. É que não são os partidos que decidem sobre a soberania, são os povos, e os que estão habituados a tê-la não vão largá-la.

  18. Todo o comentário de João traduz uma postura nacionalista pois coloca as nações no centro dos seus comentários disparatados. Eu qe não presto muito tempo a estas coisas Pressinto facilmente que o nacionalismo é isso mesmo; ver o mundo como uma batalha entre países escondendo as classes e os seus interesses pordetrás dessa fachada e ver o mundo como uma batalha entre países de uma maneira natural e inconsciente.
    vendo as coisas a distância o nacionalismo é invísivel para a esquerda como o neoliberalsmo é invisivel para a direita. Ambos apresentam-se inevitáveis e naturais para os que os defendem e para o público exterior. MAs ambos são ideologias que defendem sempre interesses de classe. esquecer isso é a maior vitória de qualquer ideologia. E De qualquer classe que quer continuar a mandar nos destinos do mundo. Esperar que o partido comunista assuma-se como nacionalista com todas as letras é uma espera idêntica à de um empresário assumir que explora os seus empregados. Inacreditável a inocência de pessoas que se dizem de esquerda mas que são reaccionárias até à medula.

  19. “ver o mundo como uma batalha entre países escondendo as classes e os seus interesses pordetrás dessa fachada e ver o mundo como uma batalha entre países de uma maneira natural e inconsciente.”

    Pois bem. Passemos a considerar que não precisamos de cuidar de nós, do nosso país, da nossa capacidade de resolver os nossos problemas, da nossa capacidade de encontrar mecanismos de aferição da vontade popular e instrumentos para a sua concretização e esclarecimento.

    Consideremos sim que todos os que vêm, vêm em paz. Acreditemos em tudo o que qualquer outro governo de outro país nos disser, assinemos de cruz qualquer acordo que nos propuserem porque concerteza que o nosso interesse já está sempre salvaguardado por iniciativa da outra parte.

    Não há disputas entre os países da UE no que respeita às verbas e atribuições do Orçamento comunitário nem nada. Tal como não existe lançamentos de projectos comuns da UE com o fito de beneficiar as indústrias e os serviços dos países mais poderosos e desenvolvidos.

    Ah. Exemplo prático. Acreditemos também que foram razões técnicas que impediram o avião de Morales de aterrar em Portugal para reabastecimento, que até seria Morales que deveria pedir desculpas a Portugal por ter sugerido que o governo português mentiu quando disse que foram só razões técnicas.

    Eu defendo que é preciso muito cuidado antes de abdicar formal e legalmente de soberania desde logo orque se deve preservar alguma distância em relação ao que outros países nos propõem, ou seja, não devemos considerar à partida que nunca vão querer tirar vantagem de nós, ou nós de outros.

    Você parte daqui para dizer que eu vivo sob o princípio de que entre os países só há luta. Não. Não há só luta, mas também há luta. A ilusão parece-me ser a sua. A de que não há luta, conflito senão porque existem países. Pois bem, acabar com os países não vai impedir a existência de lutas e conflitos, até porque os países só acabam efectivamente dentro de um império que tenha a força suficiente para esmagar qualquer veleidade de retorno à indepêndência de qualquer região. Então essa paz de que vocês falam feita de supressão dos países acaba por pressupor um sinistro aparelho de repressão global, na escala europeia.

    Se você me vier dizer que uma federação se constrói sem estes mecanismos centrais de repressão das periferias e das regiões no que, nelas, pode ser contrário ao interesse tal como é percebido das instituições centrais, então você não deve saber como é que se constroi uma federação e como a dinâmica é sempre de maior e maior centralização – sendo que no caso europeu, uma vez que implica povos diferentes, as consequências podem ser explosivas.

    Mais uma vez indico que o crescimento da extrema-direita por exemplo em França nasce muito do que é a percepção de perda de soberania. Por isso eu volto a defender que a promoção desenfreada da abdicação das soberanias em favor de uma estrura federalista pode causar uma explosão de nacionalismos assim que uma crise económica mais séria abale a federação. Então, onde vocês estão a ver nacionalismo, eu vejo bom senso e prudência para que, precisamente, não se caia no nacionalismo, seja como promotor dele (como poderá ser, por exemplo, o caso francês) ou como sua vítima (como poderão ser as comunidades de imigrantes).

  20. Há tempos, faz-se necessário algum rigor terminológico e/ou conceitual.
    Sugerimos, para começar:
    P”C”P, em lugar de PCP;
    Muniscota, em lugar de comunista (para sequazes do P”C”P e congêneres do nacional-bolchevismo tardio);
    Modju, em lugar de militante, para designar o muniscota e outros fascistas (vermelhos, inclusive).
    Outros verbetes serão elencados, quando se fizer necessário.

  21. Ulisses, se você torturar o significante por tempo suficiente você e capaz de fazer dele uma coisa e o seu contrário. O que você não consegue fazer é tornar o sistema financeiro amigo do Estado social e dos trabalhadores. Portanto, só posso considerar os seus jogos de letras como conversa para boi dormir.

  22. Defender o “o povo da nossa nação” em detrimento do “interesses de rapina” de outros países é, sem qualquer margem de dúvida, o melhor adubo para fertilizar ambiguidades e alianças bizarras entre esquerda e direita patriótica – tudo em nome das riquezas que estão a ser usurpadas pelos estrangeiros.

    Todo um conjunto de ideias que serve para angariar votos dos que empunham bandeiras (e discutem rivalidades entre nações, e não conflitos entre classes sociais) e semear confusões no interior da própria esquerda.

    Para seguirmos o fundamental debate sobre a importância das questões de classe, talvez fosse interessante nos atentarmos para a reportagem publicada hoje (16 de julho) na seção “Mercado Aberto” do caderno Dinheiro do jornal brasileiro Folha de São Paulo. São dados de uma pesquisa interessante – que esclarece, vejam só, o quanto a influência das corporações e sua soberania de suas ações/decisões são percebidas – ainda que difusamente em alguns casos – como extremamente relevantes pelas pessoas inquiridas sobre o tema. A reportagem ainda menciona, ainda que sem grandes precisões sobre o assunto, que as empresas são mais admiradas que os governos e políticos.

    Talvez fosse mais importante nos concentrarmos nessas questões relacionadas à soberania das empresas (que em alguns casos se apoiam em nacionalismos vários, quando isso lhes convêm, é claro – exemplo das multinacionais “brasileiras” apoiadas com linhas de financiamento especial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, do Brasil) do que simplesmente vocalizar discursos nacionalistas que dividem aqueles que lutam pela transformação radical autônoma das relações sociais atuais.

    ***

    CORPORAÇÕES EM ALTA

    Apenas 37% dos entrevistados pela Ipsos em 24 países acreditam que políticos são mais relevantes e podem conduzir mais mudanças no mundo do que as empresas.

    A maioria (63%) das pessoas confia mais na efetividade do meio corporativo do que dos governos públicos.

    Mais de 18 mil pessoas foram consultadas para a elaboração do levantamento em março deste ano.

    Os números brasileiros são semelhantes à média geral: 61% dos entrevistados no país apostam mais no potencial das empresas.

    As mesmas respostas do Brasil foram encontradas entre os argentinos.

    A China e a Itália são os únicos países que apresentam índices mais elevados para os políticos do que para o setor privado, com 56% e 53%, respectivamente.

    A Alemanha chama a atenção por ter 79% de aprovação para as empresas. A vizinha França também tem números elevados de preferência corporativa, com 70%.

    Os russos, por outro lado, ficaram divididos.

  23. O comentário de João tem tanto de estúpido como de manipulador e por isso merece um breve esclarecimento. Primeiro porque o internacionalismo implica um esbatimento das nacionalidades e não uma soma de nações. Segundo, a tese dos fascistas é, na generalidade, precisamente a da criação de um universo de nações fascistas que se dariam fraternalmente para todo o sempre. No fundo, o “internacionalismo” dos fascistas partilha da mesma espinha dorsal do “internacionalismo” do PCP: criar uma europa de nações livres, soberanas e independentes e sem estruturas supra-nacionais de decisão, sejam elas a UE, sejam elas resultado do comunismo como «projecto histórico-mundial» de acordo com a formulação de Marx e de Engels na sua obra “A ideologia alemã”.

    Eu ainda me lembro de há vários anos ter visto na Festa do Avante o sucesso de vendas do primeiro tomo das obras escolhidas do Marx e do Engels, tomo que incluía precisamente “A ideologia alemã”. Na altura não percebia como era possível haver tanta gente a comprar aquele livro e, ao mesmo tempo, existir tanta gente no PCP sem conhecimentos mínimos do marxismo. O comentador João trata de nos lembrar como é possível coexistir um desconhecimento total da obra de Marx (que está longe de não ser contraditória e cheia de equívocos) numa organização que faz do marxismo a sua (pretensa) base teórica.

  24. Você dê as voltas que der que toda a sua conversa da treta resulta nisto: não cabe a nenhuma força de esquerda fazer alguma coisa nacionalmente. Ou se faz a partir de uma concertação internacional onde as acções em cada país estão sancionadas por todos ou não se faz. Isto é uma rede de tretas para assegurar que nunca nada seja feito e que, ao fim ao cabo, as forças que comandam a situação continuem não só o seu predomínio mas a sua predação das economias e do trabalho de povos como Portugal.

    Depois o seu marxismo, eu já notei, é feito essencialmente de “name droping”, ou seja, você não trata nada de Marx sistematicamente e vem agora largar o nome da ideologia alemã como se ela fosse alguma justificação para a imbecilidade das posições em que você quer enfiar o trabalho das esquerdas.

    Qualquer organização política de trabalhadores tem que fazer o que nenhuma organização internacional pode fazer – conquistar terreno no seu país. Sem este trabalho o trabalho internacional não tem base, fica-se por reuniões e conferências. A sua esquerda, ou lá o que é que você é, não tem mais nada para oferecer senão o debate e análise infinitas. Enfim, você quer só conversa e mais conversa enquanto, no entretanto, a situação se mantém e na Grécia até já o grande capital vai dando ajuda aos nazis do aurora dourada.

    E depois você não contrapôs nada do que eu disse antes. É possivel sim que a UE se constitua numa federação de Estados fascistas, nada o impede teoricamente – basta aparecer o motivo certo.

    Depois, uma vez que você recusa a implantação nacional das lutas de esquerda você transporta o núcleo decisório para longe do terreno onde os trabalhadores actuam,portanto, reafirmo, é a sua própria posição que tende à centralização e ao isolamento do poder político em relação ao terreno onde laboram os povos e suas organizações – volto portanto a apelidar a sua proposta como Federal-Fascismo.

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